A Guerra sem Bento Na sessão extraordinária da Câmara de Piratini, na primeira capital da República Rio-grandense em 6 de no...
A Guerra sem Bento
Na
sessão extraordinária da Câmara de Piratini, na primeira capital da
República Rio-grandense em 6 de novembro de 1836, procedeu-se
formalmente a votação para Presidente da República, conforme os
parâmetros da época. A concorrida eleição foi vencida por Bento
Gonçalves da Silva (mesmo sem estar presente e sem campanha) e primeiro
vice-presidente José Gomes de Vasconcelos Jardim. Assume o vice
interinamente a presidência com a incumbência de convocar uma
Assembleia Constituinte para formar a Constituição da República
Rio-grandense.
A luta entre Farroupilhas e Imperiais continuou
acirrada. O Império despejava rios de dinheiro para recrutar mais e
mais soldados paulistas e baianos, para comprar mais armas, mais
munições, com pouquíssimo resultado prático.
Pelo lado imperial,
Araújo Ribeiro foi substituído a 5 de janeiro de 1837 pelo Brigadeiro
Antero de Brito, acirrando mais a disputa. Brito passou a acumular os
cargos de Comandante das Armas e de Presidente da Província com capital
em Porto Alegre. Se Araújo era, acima de tudo, conciliador, Brito
perseguiu e prendeu até mesmo civis simpatizantes das ideias
farroupilhas, confiscando seus bens; alguns destes foram punidos com a
pena de desterro. Em contrapartida os Farrapos eram senhores do pampa,
recebiam maciças adesões de militares descontentes com a nomeação de
Brito, e ainda em Janeiro de 1837, ganham o apoio dos habitantes de
Lages de Santa Catarina, que seria um importante ponto onde os Farrapos
comprariam armas e munições. O principal perseguido por Antero de Brito
era o Comandante das Armas Imperiais anterior a ele, nada menos que
Bento Manuel Ribeiro. Vaidoso, e prepotente, Bento Manuel não aceitava
a auto-nomeação de Brito, e continuava a dar suas próprias ordens às
tropas. Brito, então, sai pessoalmente ao seu encalço. Bento foge
mudando de direção, como numa brincadeira de gato e rato. Situação que
se arrasta até o dia 23 de março de 1837 quando, num golpe de mestre,
Bento Manuel Ribeiro deixa um piquete para trás, sob o comando do major
Demétrio Ribeiro que, de surpresa, cai sobre as tropas de Brito e
prende o Presidente Imperial da Província. Com isso novamente o traidor
é aceito no seio farrapo, passando a combater novamente os imperiais.
Em
8 de abril o general Netto conquista Caçapava do Sul, centro de
reabastecimento imperial, depois de sete dias de cerco, apreendendo 15
canhões e fazendo prisioneiros a 540 imperiais, comandados pelo coronel
João Crisóstomo da Silva. Ainda neste ano, em 2 de julho, acontece o
Combate de Ivai, onde Bento Manuel é capturado, mas após um ataque
farroupilha 50 legalistas são mortos, enquanto o marechal Sebastião
Barreto Pereira Pinto foge para Caçapava do Sul.
A sustentação
econômica da República era propiciada pelo apoio da vizinha República
Oriental do Uruguai, que permitia o comércio do charque produzido pelos
rio-grandenses para o próprio Brasil. A exportação era feita por terra
até o Porto de Montevidéu, ou pelo Rio Uruguai. Em 29 de agosto é
assassinado o coronel João Manuel de Lima e Silva, que havia derrotado
Bento Manoel Ribeiro imperial, no ano anterior.
A 29 de agosto
de 1838 lança seu mais importante manifesto aos rio-grandenses onde
justifica as irreversíveis decisões tomadas em favor da libertação do
seu povo, e coloca a nação gaúcha no seu verdadeiro lugar entre as
demais nações da Terra: -Toma na extensa escala dos estados soberanos o
lugar que lhe compete pela suficiência de seus recursos, civilização e
naturais riquezas que lhe asseguram o exercício pleno e inteiro de sua
independência, eminente soberania e domínio, sem sujeição ou sacrifício
da mais pequena parte desta mesma independência ou soberania a outra
nação, governo ou potência estranha qualquer. Faz neste momento o que
fizeram tantos outros povos por iguais motivos, em circunstâncias
idênticas. E no trecho final, um juramento importante lembrado e
cobrado pelos Farrapos de todos os tempos: - Bem penetrados da justiça
de sua santa causa, confiando primeiro que tudo, no favor do juiz
supremo das nações, eles têm jurado por esse mesmo supremo juiz, por
sua honra, por tudo que lhes é mais caro, não aceitar do governo do
Brasil uma paz ignominiosa que possa desmentir a sua soberania e
independência. Estas palavras têm reflexo mais tarde, quando da
assinatura do Tratado de Ponche Verde.
Carta de Bento Gonçalves aos seus comandados, escrita na prisão
Fonte: blog do Léo Ribeiro
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