Em Brasília, as festas juninas, que invadem o mês de julho, mexem com os corações e as mentes da população candanga. Este gosto pelos feste...
Em Brasília, as festas juninas, que invadem o mês de julho, mexem com os corações e as mentes da população candanga. Este gosto pelos festejos de São João foi trazido pelos migrantes nordestinos, contaminou a gente vinda de outras regiões e perdura na geração de brasilienses natos.
Clubes, escolas e igrejas montam suas barracas e acendem suas fogueiras para homenagear o santo. As festas mais populares reúnem dezenas de milhares de pessoas e são altamente lucrativas para seus organizadores. A exploração das barracas e a entrada de carrinhos para venda de tudo que se consome nestas festas - quentão, cerveja, churrasquinho, pipoca, canjica etc - são disputadas em leilões concorridíssimos.
Homens e mulheres de chapéu de palha, camisas ou vestidos de cores berrantes, eles de rosto pintado a carvão, elas com maquiagem exagerada, dançam a quadrilha e celebram o casamento na roça. Mas o espaço da festa junina é democrático e mesmo quem não está vestido a caráter pode se divertir.
Quando me encontro neste espaço, não posso deixar de fazer comparações com o espaço onde gaúchos, como eu, celebram suas tradições. Sim, a gauchada se diverte - e muito - nos CTGs, Centro de Tradições Gaúchas. Sim, CTGs proliferam em Brasília e arredores, nada de admirar, se estão até em países tão improváveis como Rússia e Japão. Mas, há uma diferença marcante: enquanto a tradição caipira da festa junina é uma grande brincadeira, onde as vestes caipiras são assumidas como fantasia e caricatura, as festas gaúchas são levadas com a seriedade de um culto solene ao passado glorioso do Rio Grande do Sul e exige uma indumentária e atitudes apropriadas, para que você (melhor dizendo, tu) não seja(s) excluído da comunhão tradicionalista.
Curioso é que ambas as festas cultuam mitos, tipos humanos que só existem no campo das idealizações e não correspondem rigorosamente a uma realidade histórica. O caipira folgazão nem de longe remete às figuras trágicas do Jeca Tatu e do Zé Brasil, protótipos do homem pobre do Brasil rural descritos por Monteiro Lobato. Já o peão dos campos sulinos, o monarca dos pampas, criado livre, sem cercas e sem fronteiras a limitar as correrias de seu cavalo, nada tem a ver com o verdadeiro gaúcho, o explorado e desassistido empregado da estância, esta organização capitalista primitiva com fortes cores feudais.
Iguais na origem mitológica, as tradições se diferenciam na maneira de se organizar. Na tradição gaúcha nada é espontâneo, pois existe um órgão, o Movimento Tradicionalista Gaúcho, que tomou a si a tarefa de regular toda e qualquer manifestação nesta área. Existem normas determinando a forma de se vestir, de dançar, de declamar, de cantar e até detalhando o preparo do chimarrão e do churrasco. Qualquer desvio, qualquer ousadia, e lá estará o olho vigilante do MTG para coibi-los e este olho vigia, não só os CTGs, mas também o comércio de produtos ligados à cultura gauchesca.
Um pequeno empresário, vendo o sucesso das calças Lee e Levis entre os jovens e os não tão jovens, teve a idéia de fabricar bombachas com o mesmo tecido. A novidade caiu no gosto da gauchada e as vendas dispararam. Mas a mão pesada do MTG desabou sobre a inteligente iniciativa empresarial e proibiu a comercialização das bombachas jeans sob o argumento de que tal tecido não existia na época das primeiras bombachas.
Mas às vezes o MTG dorme no ponto ou então se vê impotente para impedir as inovações trazidas pelo progresso. Quando os xerifes da tradição se reúnem para traçar suas normas inquisitoriais estarão invariavelmente tomando seu chimarrão e para cevar a erva-mate nas cuias usam água quente mantida na temperatura certa numa moderna garrafa térmica. O gaúcho do século 19, tendo numa das mãos sua cuia e na outra uma chaleira de ferro, lança um olhar para o futuro e exclama: Mas bá, quanta contradição, tchê!
Informações do BrasilWiki.
Clubes, escolas e igrejas montam suas barracas e acendem suas fogueiras para homenagear o santo. As festas mais populares reúnem dezenas de milhares de pessoas e são altamente lucrativas para seus organizadores. A exploração das barracas e a entrada de carrinhos para venda de tudo que se consome nestas festas - quentão, cerveja, churrasquinho, pipoca, canjica etc - são disputadas em leilões concorridíssimos.
Homens e mulheres de chapéu de palha, camisas ou vestidos de cores berrantes, eles de rosto pintado a carvão, elas com maquiagem exagerada, dançam a quadrilha e celebram o casamento na roça. Mas o espaço da festa junina é democrático e mesmo quem não está vestido a caráter pode se divertir.
Quando me encontro neste espaço, não posso deixar de fazer comparações com o espaço onde gaúchos, como eu, celebram suas tradições. Sim, a gauchada se diverte - e muito - nos CTGs, Centro de Tradições Gaúchas. Sim, CTGs proliferam em Brasília e arredores, nada de admirar, se estão até em países tão improváveis como Rússia e Japão. Mas, há uma diferença marcante: enquanto a tradição caipira da festa junina é uma grande brincadeira, onde as vestes caipiras são assumidas como fantasia e caricatura, as festas gaúchas são levadas com a seriedade de um culto solene ao passado glorioso do Rio Grande do Sul e exige uma indumentária e atitudes apropriadas, para que você (melhor dizendo, tu) não seja(s) excluído da comunhão tradicionalista.
Curioso é que ambas as festas cultuam mitos, tipos humanos que só existem no campo das idealizações e não correspondem rigorosamente a uma realidade histórica. O caipira folgazão nem de longe remete às figuras trágicas do Jeca Tatu e do Zé Brasil, protótipos do homem pobre do Brasil rural descritos por Monteiro Lobato. Já o peão dos campos sulinos, o monarca dos pampas, criado livre, sem cercas e sem fronteiras a limitar as correrias de seu cavalo, nada tem a ver com o verdadeiro gaúcho, o explorado e desassistido empregado da estância, esta organização capitalista primitiva com fortes cores feudais.
Iguais na origem mitológica, as tradições se diferenciam na maneira de se organizar. Na tradição gaúcha nada é espontâneo, pois existe um órgão, o Movimento Tradicionalista Gaúcho, que tomou a si a tarefa de regular toda e qualquer manifestação nesta área. Existem normas determinando a forma de se vestir, de dançar, de declamar, de cantar e até detalhando o preparo do chimarrão e do churrasco. Qualquer desvio, qualquer ousadia, e lá estará o olho vigilante do MTG para coibi-los e este olho vigia, não só os CTGs, mas também o comércio de produtos ligados à cultura gauchesca.
Um pequeno empresário, vendo o sucesso das calças Lee e Levis entre os jovens e os não tão jovens, teve a idéia de fabricar bombachas com o mesmo tecido. A novidade caiu no gosto da gauchada e as vendas dispararam. Mas a mão pesada do MTG desabou sobre a inteligente iniciativa empresarial e proibiu a comercialização das bombachas jeans sob o argumento de que tal tecido não existia na época das primeiras bombachas.
Mas às vezes o MTG dorme no ponto ou então se vê impotente para impedir as inovações trazidas pelo progresso. Quando os xerifes da tradição se reúnem para traçar suas normas inquisitoriais estarão invariavelmente tomando seu chimarrão e para cevar a erva-mate nas cuias usam água quente mantida na temperatura certa numa moderna garrafa térmica. O gaúcho do século 19, tendo numa das mãos sua cuia e na outra uma chaleira de ferro, lança um olhar para o futuro e exclama: Mas bá, quanta contradição, tchê!
Informações do BrasilWiki.
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