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Uma Prosa Difícil ... A batalha de Porongos

A BATALHA DOS PORONGOS Nestes dias em que se comemora a Semana Nacional da Consciência Negra, iniciativa do poeta e professor gaúcho Oli...


A BATALHA DOS PORONGOS

Nestes dias em que se comemora a Semana Nacional da Consciência Negra, iniciativa do poeta e professor gaúcho Oliveira Silveira, nosso blog toca num tema por demais polêmico, ou seja, a Batalha dos Porongos, onde a maioria dos bravos Lanceiros Negros, tropa de elite dos farrapos, foi dizimada em um episódio da Guerra até hoje não muito bem resolvido.

Fizemos vários estudos de pesquisas sobre o assunto que parece interminável e sem solução.

Em 2009 o Piquete Lanceiros Negros, aqui de Porto Alegre, tomando partido de que os ancestrais de sua raça foram traídos em Porongos, tentou participar do desfile temático da semana farroupilha mostrando em carro alegórico a suposta traição, o que não foi aceito pelo MTG. E a guerra, agora, de versões, continua...

OS FATOS, SEGUNDO OS HISTORIADORES

1. As lideranças farroupilhas tiveram posições conflitantes frente à questão servil. De um lado, a chamada “maioria” – formada por Bento Gonçalves, Domingos José de Almeida, Mariano de Mattos, Antônio Souza Neto e outros – assumiu uma postura claramente abolicionista. Estes, não estavam presentes na assinatura do Tratado de Paz de Ponche Verde.

2. De outro, a “minoria” – Vicente da Fontoura, David Canabarro e outros chefes farrapos – aceitou a libertação dos escravos que se engajassem na luta contra o império, mas opôs-se tenazmente a qualquer tentativa de libertação geral dos escravos.

3. A resultante dessa contradição foi a não inclusão no projeto de Constituição da República Rio-Grandense da liberdade para os escravos e a Batalha de Porongos, em 14 de novembro de 1844, quando os Lanceiros Negros foram massacrados em um episódio muito controvertido, envolvendo suspeitas de traição e cartas cuja autenticidade ainda é questionada, que mudaria os rumos da revolução.

4. Trechos da citada carta de Barão de Caxias a Moringue, que chefiava os soldados imperiais na Batalha dos Porongos, em 9 de novembro de 1844 e que foi publicada em 1950 pela editora oficial do Exército, sob ordens do então Ministro da Guerra, General Canrobert Pereira da Costa, junto com outros documentos do Duque de Caxias. Tal documento tem sua autenticidade questionada por muitos historiadores: […] Regule V. S. suas marchas de maneira que no dia 14, às duas horas da madrugada possa atacar as forças a mando de Canabarro, que estará nesse dia no Serro dos Porongos. […] No conflito poupe o sangue brasileiro o quanto puder, particularmente da gente branca da Província ou índios, pois bem sabe que essa pobre gente ainda nos pode ser útil no futuro. […] Não receia a infantaria inimiga, pois ela há de receber ordem de um ministro de seu general-em-chefe para entregar o cartuchame sob o pretexto de desconfiarem dela. Se Canabarro ou Lucas forem prisioneiros deve dar-lhes escápula de maneira que ninguém possa nem levemente desconfiar […]

4. Luís Alves de Lima e Silva recebeu instruções do Império, que temia o avanço de Rosas sobre o território litigante, para propor condições honrosas aos revoltosos, como a anistia dos oficiais e homens, sua incorporação ao Exército Imperial nos mesmos postos e a escolha do Presidente da Província pela Assembleia Provincial, taxações sobre o charque importado do Prata. Entretanto, uma questão permanecia insolúvel, a dos escravos libertos pela República para servir no exército republicano. Para o Império Brasileiro, era inaceitável reconhecer a liberdade de escravos dada por uma sedição, embora anistiasse os líderes da mesma revolta.

5. Em novembro de 1844, em meio ás tratativas, estava em voga uma suspensão de armas, condição fundamental para que os governos pudessem negociar a paz, levando ao relaxamento da guarda no acampamento da curva do arroio Porongos. Condição essa não cumprida por todos os envolvidos.

6. Canabarro e seus oficiais imediatos foram a uma estância próxima visitar a mulher viúva de um ex-guerreiro farrapo e o coronel Teixeira Nunes e seu corpo de Lanceiros Negros descansavam. Foi então que apareceu Moringue, de surpresa, quebrando o decreto de suspensão de armas. Mesmo assim o corpo de Lanceiros Negros, cerca de 100 homens de mãos livres, pelearam, resistiram e bravamente lutaram até a aniquilação, em uma posição de difícil defesa. Além disso, foram presos mais de 300 republicanos entre brancos e negros, inclusive 35 oficiais.

7. Tenha sido surpresa ou traição, de alguma maneira os negros farrapos foram separados do resto da tropa. Isolados e portando apenas armas brancas, os Lanceiros Negros resistiram bravamente antes de serem liquidados. O combate de Porongos, onde oitenta de cem mortos foram negros, abriu caminho para a Paz de Ponche Verde alguns meses depois. “Tombam os Lanceiros Negros de Teixeira, brigando um contra vinte, num esforço incomparável de heroísmo", segundo Cláudio Moreira Bento.

8. O general Canabarro, recuperado, reuniria ainda todo o restante de seu exército, cerca de 1.000 homens, e atacaria Encruzilhada a 7 de dezembro de 1844, tomando-a e mostrando assim que a sua intenção não era entregar-se.

9. Dos Lanceiros negros acreditamos tenham restado mais de 120, que após a paz de Ponche Verde foram mandados incorporar pelo Barão de Caxias aos três Regimentos de Cavalaria de Linha do Exército na Província. Dentre em breve iriam lutar no Uruguai e na Argentina na Guerra contra Oribe e Rosas, pela Integridade e Soberania brasileiras no Sul, ameaçadas por caudilhos platinos.

10. O desastre dos Porongos levou Canabarro ao tribunal militar farroupilha. Com a paz o trâmite continuou na justiça militar do Império. O General Manuel Luís Osório, futuro comandante das tropas brasileiras na batalha de Tuiuti (durante a Guerra do Paraguai) fez com que o processo fosse arquivado sem ter sido concluído, em 1866.

OPINIÃO DESTE BLOGUEIRO

Devido a carência de informações e documentos confiáveis atestando a veracidade dos fatos é muito complicado opinar definitivamente sobre o assunto como vem fazendo muitos escritores. E o pior, usando tal episódio da Batalha dos Porongos para denegrir a revolução como um todo, omitindo, propositadamente, que seus maiores líderes, Bento e Netto, já tinham abandonado os campos de luta e, diante da negativa de libertação dos escravos por parte do império, levando junto consigo o que puderam de negros soldados.

Contudo, não tenho dúvida que o episódio é emblemático e, no mínimo, suspeito.

Sempre que tento me posicionar sobre algum tema discutível, avalio os prós e os contras dentro do contexto. Vamos fazer, portanto, este exercício, baseando-se nos fatos pesquisados no texto acima:

FATOS PRÓ DAVID CANABARRO

1. Em novembro de 1844, em meio ás tratativas, estava em voga uma suspensão de armas, condição fundamental para que os governos pudessem negociar a paz, levando ao relaxamento da guarda no acampamento da curva do arroio Porongos. Tal acordo, não era obedecido por todas as partes envolvidas.

2. O general Canabarro, após a Batalha dos Porongos, recuperado, reuniria ainda todo o restante de seu exército, cerca de 1.000 homens, e atacaria Encruzilhada a 7 de dezembro de 1844, tomando-a e mostrando assim que a sua intenção não era entregar-se.

FATOS CONTRA DAVID CANABARRO

1. David Canabarro não era ablucionista, como a maioria dos chefes farrapos.

2. A suposta carta de Caxias a Moringue dando conta de seu acerto com Canabarro.

3. A separação do corpo de Lanceiros Negros dos demais soldados, bem como o relaxamento da guarda. Não é concebível que um General acostumado com os embates não tivesse guardas protegendo seu acampamento, mesmo em vésperas de paz e recebendo, assim, um ataque de “surpresa”. Não viram a movimentação de centenas de inimigos?

4. Canabarro e seus oficiais imediatos foram a uma estância próxima visitar a mulher viúva de um ex-guerreiro farrapo. Seria isto um motivo plausível para o General abandonar sua tropa coincidentemente na hora do ataque?

5. O desastre dos Porongos levou Canabarro ao tribunal militar farroupilha. Com a paz o trâmite continuou na justiça militar do Império. O General Manuel Luís Osório, futuro comandante das tropas brasileiras na batalha de Tuiuti (durante a Guerra do Paraguai) fez com que o processo fosse arquivado sem ter sido concluído, em 1866.

Tirem suas conclusões, prezados blogueiros.
Twitter: @tcheleoribeiro

Fonte: Blog do Léo Ribeiro

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