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Velhas histórias sobre uma legenda: Honeyde Bertussi

A prenda Alessandra Motta tendo seu trabalho avaliado por Honeyde Bertussi que apesar de sua fama sempre colaborou nos diversos concurso...

A prenda Alessandra Motta tendo seu trabalho avaliado por Honeyde Bertussi que apesar de sua fama sempre colaborou nos diversos concursos

Dentre os centenas de milhares, que conheceram, viram ou ouviram os Irmãos Bertussi, e em especial o Honeyde, com certeza, eu serei apenas mais um a contar detalhes da vida dele entre seus fãs.

Um homem refinado, culto, educado, simpático, simples, cônscio de sua importância, mas sempre trajado à gaúcho, modestamente, sem ostentação, para ser e era igual a todos os gaúchos do nosso Rio Grande do Sul.

Eu era guri, 1957, Centenário de Passo Fundo, a musicalidade gaúcha ainda engatinhava, mas contrataram os Irmãos Bertussi para abrilhantar os festejos, e os esconderam nos fundos dum Pavilhão da Prefeitura Municipal, ergueram um tablado simples e ligaram uma lâmpada de 60 wats acima de suas cabeças, para que a plateia,  reduzida, a não mais de uma centena de pessoas, pudessem vê-los tocar suas gaitas Todeschini.

Eu fiquei estupefato, eu já ouvira no Rádio, tocadores de 8 a 80 baixos, como Pedro Raymundo, Osvaldinho e Zé Bernardes, ou Percival Garcez e Zéquinha Gregório, e os músicos do recém criado CTG. Lalau Miranda, mas quando os vi, dois gaúchos, de pé, naquele lusco fusco, tocando nas suas gaitas, a Marcha Triunfal Aida, era inimaginável estar ouvindo aqueles sons orquestrais e vendo a maestria da execução.

Cinco anos depois, adentram nas Lojas Floriani, dois gaúchos, bombachas largas e chapéus de aba grande,  eu de balconista, os recepciono sem saber quem são, e distendo os cortes de tergal e casimira inglesa no balcão, e levam dois cortes de três metros cada, para bombachas de dois panos.

Meu colega Valdir Cunha, depois que os clientes saíram me disse:

Estás famoso hoje!...e eu...porque?...Vendeu dois cortes de casimira para os Irmãos Bertussi.!

Estava eu a passeio em Santo Ângelo e fui na Fenamilho pois ali realizava-se mais um Congresso Tradicionalista, e casualmente me encontro no hall com meu inesquecível ídolo, Honeyde Bertussi, e depois das apresentações passei a lhe contar o que vos contei antes:

Seus olhos marejaram ao ouvir a primeira passagem, enxugou as lágrimas na segunda, e perguntado passou  ame  confidenciar, que estava guardando todos os seus discos, selados, como vieram da gravadora, pois assim exigiam naquela época, segundo ele, que estivessem intactos para virarem CD.

Nos reencontramos em 1985, quando da realização do 1º Rodeio Nacional de Integração Gaúcha de Passo Fundo, quando convidei a nata de juízes para julgamento das apresentações artísticas...muitos nem responderam, mas Honeyde Bertussi ligou-me de sua residência em Caxias do Sul, com aquela sua voz sonora, fazendo questão de vir a Passo Fundo...e quando perguntei pelos honorários, quase cai do cavalo, pediu apenas mil cruzeiros, a mesma pedida dum narrador prata da casa..vejam só a sua modéstia, e de quebra, se eu poderia arrumar um baile para o seu conjunto tocar.

Nos breves momentos em que privamos no Rodeio, atrás de sua fama e de seu sucesso, vi no seu caminhar e senti no seu semblante, um homem pensativo, quase triste, escondido atrás dos óculos, remoendo alguma coisa mal resolvida, deixando escapar numa dessas,  problemas familiares, que depois vim a saber, foram um atraso para a sua vida pessoal e artística.

Prova disso, são alguns títulos de suas letras e músicas, dentre as inúmeras cito apenas: Barco da Esperança, Saudade e Tristeza, Me Despedir Cantando, Ingratidão Não Tem Preço, Deusa de Barro, Eu Já Fui Feliz, Não me Calo, Rodeio da Vida, e ANA.

Enfim, o seu legado é de tal importância, tanto quanto de seu irmão Adelar que ainda vive, que não conseguimos ainda dimensionar adequadamente, falta uma biografia, um livro, uma grande história de vida, e principalmente de análise no tempo e no espaço, das letras, da  música da musicalidade, de estilo, de genialidade, sui generis, provinda de uma família musical, talvez de uma ancestralidade tirolesa, com uma cruza portuguesa dos Dutra e Siqueira.

Dos anos 50 até o dia de hoje, todos os gaiteiros, sem necessidade de citar um sequer, do menor ao maior do Rio Grande, foram influenciados pelo toque mágico de sua gaita e da sua inimitável tonalidade de voz, isso sem contar, as letras autênticas, eivadas de tradição e de patriotismo gaúcho.

Foi tal a sua influência nas famílias gaúchas, que havidas de homenagear com seu nome à seus filhos, não fizeram distinção, nominando homens e mulheres com o nome de Honeyde, como  a minha irmã,  e a sogra do meu filho, para exemplificar.

Como é linda a minha terra...e a minha garganta se embarga, os olhos lacrimejam ao lembrar do Honeyde e da honra que tive em privar da sua atenção e amizade.

Onde quer que estejas... num concerto celestial... todos se calam para ouvir tua voz e escutar a tua gaita.

Campo Grande, 11 de março de 2015.

Odilon Garcez Ayres
Membro da APL – RS e ALB-MS


Fonte: blog do Léo Ribeiro

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