Irmãos Bertussi. Primeiros músicos a gravarem um bugio (Casamento da Doralice) Hoje vamos fazer uma breve explanação sobre o ritmo bugi...
Irmãos Bertussi. Primeiros músicos a gravarem um bugio (Casamento da Doralice)
Hoje vamos fazer uma breve explanação sobre o ritmo bugio, o único compasso gaúcho surgido no Rio Grande do Sul.
Segundo o dicionário da língua portuguesa, bugio significa uma espécie de macaco. Tal animal seria oriundo da Argélia, mais precisamente da cidade de Bugia, que leva o nome por dizer-se o berço do citado primata. Figurativamente chama-se de bugio o indivíduo feio, desengonçado, que imita os outros. Macaqueador.
Uma característica marcante dos bugios é a presença do osso hióide (gogó) muito desenvolvido nos machos, que atua como câmara de ressonância e amplificação, conferindo a esses animais uma vocalização ímpar e mais acentuada, quando o tempo está para chover. Segundo os mais antigos “se o bugio roncou no mato, é chuva grossa de fato” e nenhum campeiro saía para suas lides sem a capa na garupa.
Pois foi para imitar esse ronco que surgiu o único ritmo genuinamente gauchesco, visto que todos os outros (vaneiras, chotes, valsas, etc.) são “importados”. A eterna é onde surgiu o ritmo. Alguns historiadores dizem que foi em São Francisco de Assis, através do gaiteiro Neneca Gomes. Outros, como Os Bertussi, defendem que a origem do balanço sincopado apareceu pela primeira vez lá pelas bodegas do Juá, em São Francisco de Paula, através do gaiteiro Virgílio Leitão.
Alguns pesquisadores do assunto dizem que as afirmativas anteriores carecem de um estudo mais profundo pois a "imitação" do ronco do primata se faz com o jogo-de-foles do acordeom e as gaitas botoneiras executadas por Neneca Gomes e Virgílio Leitão, por abrirem num tom e fecharem em outro, não permitem tal movimento.
O folclorista Paixão Côrtes (que amanhã, dia 12, comemora 89 anos de idade) considera que é muito perigoso precisar o nascedouro do gênero musical característico do Rio Grande do Sul e que o compasso deve ter sido criado bem depois da Guerra do Paraguai, pois em pesquisas discográficas da época do gramofone, entre o período de 1913 a 1924, nunca aparece o gênero bugio.
Adelar Bertussi, mais recentemente, apresentou uma pesquisa intitulada “O Bugio na Mulada”, onde retrata o aparecimento do ritmo em sua terra natal, no interior de São Francisco de Paula. Segundo suas observações, fruto de diversas entrevistas, o gênero já era dançado na região serrana, antes de 1918, pelos bugres descendentes dos índios caingangues que habitavam as encostas do Rio das Antas e os tropeiros birivas açorianos. Uma coisa é certa: foram eles, Os Irmãos Bertussi, os primeiros a gravar um bugio, intitulado Casamento da Doralice, no LP Coração Gaúcho.
Conta-se que tal qual o tango argentino, que foi parido na zona portuária de Buenos Aires e inicialmente era proibido de ser executado nos salões nobres por ser considerado um ritmo degradante pois permitia aos dançarinos um “roça-roça” inconcebível para a época, o bugio também só era retrechado nos bailes de ralé onde o cheiro da canha, o lusque-fusque das lamparinas e o perfume de baixa qualidade faziam parceria para o embalo que tomava conta dos bailões de fundo de campo. Seu compasso sincopado convidava aos bailarinos dançarem meio acotovelados e imitando os passos do bicho bugio.
Uma das características deste animal está relacionada com as suas reações ante uma adversidade, quando ele excreta e lança as fezes sobre seus adversários, ou seja, sua arma é seu esterco. Por esses motivos, quando gente de baixo quilate discute asperamente, as pessoas mais experientes aconselham: - não te mete, isto é briga de bugio!
Na próxima postagem estaremos falando sobre a criação do Festival Ronco do Bugio.
Fonte: blog do Léo Ribeiro