Nascido a 12 de julho de 1927, em Sant’Ana do Livramento, RS, João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes é a figura mais identificada com ...
Nascido a 12 de julho de 1927, em
Sant’Ana do Livramento, RS, João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes é a
figura mais identificada com as tradições do Rio Grande do Sul. Aliás,
a tradição e Paixão se confundem, se mesclam, tem uma só personalidade.
Paixão, ao lado de Luis Carlos Barbosa Lessa, é considerado o maior
folclorista que este terra de São Pedro viu crescer. É precursor de
todo este movimento que visa cultuar nossas raízes, pois fez parte do
Piquete da Tradição, também chamado do Grupo dos Oito que, em 1947, de
acavalo e pilchados a moda gaúcha, acompanharam os restos mortais do
General Farrapo David Canabarro pelas ruas de Porto Alegre e, no mesmo
ano, criaram a primeira Ronda Crioula, precursora da Semana Farroupilha
de hoje, sendo, esses fatos, a fonte inspiradora de tudo o que se
percebe agora em se tratando de tradicionalismo.
Paixão Côrtes tem suas origens ligadas á vida pastoril e iniciou muito cedo suas pesquisas folclóricas. No transcorrer dos tempos se viu obrigado a comprar sua própria aparelhagem (gravador, filmadora, máquina fotográfica, etc..) para registrar a cultura popular gauchesca. Deste trabalho resultou um acervo de milhares de slides, centenas de fitas e vídeos, enfim, um arquivo histórico sobre os usos e costumes do povo gaúcho.
Sua bibliografia é riquíssima e de suma importância e vai de posar como modelo para o artista Antônio Caringi esculpir a estátua do Laçador até dezenas de livros e discos que serviram de base para os primeiros passos para as centenas de invernadas artísticas por este mundo afora. Impressionantemente seu trabalho, hoje, é pouco considerado pelos "doutos" da tradição.
No ano de 1999, quando éramos proprietários do Jornal Boca da Serra, um periódico mensal voltado para a cultura gaúcha, entrevistamos Paixão Côrtes. Notem que suas respostas servem como uma luva para os dias de hoje, 17 anos após.
Boca da Serra – Depois de Paixão Côrtes, poucos ativistas dedicaram-se a pesquisar nosso folclore. Por que são poucos os interessados nesta área? Não há mais nada o que pesquisar?
Paixão Côrtes – Bem. Eu acho é que as pessoas estão mais preocupadas é em festar do que fundamentar. Estão mais voltados para a recreação e o lazer antes de procurar as raízes que deram origem a esses momentos literários, sociais e culturais. Mas eu acho que ainda há muita coisa para se pesquisar. Existem muitas manifestações que estão aí a espera de pessoas preocupadas em revitalizar essas fontes.
Só como informação: em 1950 eu pesquisei a dança jardineira, em Vacaria. Quarenta e quatro anos depois eu vim encontrá-la aqui, em Santo Antônio da Patrulha. Esperei 44 anos para que realmente reconstituíssem com toda a fidelidade. Seria muito mais fácil se eu não tivesse essa preocupação de veracidade e do respeito ás fontes originais como muita gente, irresponsavelmente, anda fazendo por aí. Minha preocupação é essa: reconstituir fielmente para que as novas gerações sejam portadoras da verdadeira raiz nativa riograndense.
Boca da Serra – Sendo o maior estudioso do assunto, como o senhor vê as danças de invernadas artísticas de hoje?
Paixão Côrtes – O que eu acho é o seguinte: as pessoas, as vezes, tem dificuldade de interpretar o que a gente escreve por que não conhecem português. Então, para essas pessoas, torna-se difícil entender o que a gente escreve traduzindo expressões artísticas, coreógrafas, musicais e de vestuário. Como as pessoas acham mais fácil olhar e acrescentar sua opinião pessoal, o que nós estamos vendo aí é uma verdadeira fantasia de vestuário e uma deturpação de temas originais que eu encontrei. Não quero dizer que as danças que eu investiguei sejam as únicas, mas estas, até que me provem o contrário, são as primitivas, as originais.
Hoje é muito comum a modificação, a estilização, a deturpação em razão da falta de documentos da época.
Boca da Serra – Nosso povo gosta muito de prestar homenagens “in memorian”. Que homenagem o senhor gostaria de receber em vida?
Paixão Côrtes – Eu estou recebendo todas as homenagens de pessoas sinceras que comungam com o espírito que me levou a criar, em 1947 o início do movimento tradicionalista através do Departamento de Comunicações do Colégio Júlio de Castilhos e, consequentemente o 35 CTG, que sou um dos fundadores.
A todo o momento eu me reencontro com as novas gerações e isto é um júbilo que a gente carrega pois já com 72 anos mas perfeitamente lúcido e me sentindo espiritualmente jovem, bastante jovem, porque estou dando muitos cursos e dançando continuadamente. Ensino setenta e tantas danças a cada curso que dou, a cada exposição coreográfica que faço aos mirins, juvenis, adultos e o reencontro com xirus veteranos, são momentos de homenagens perenes.
Isto sempre pensei em minha vida: o rever amigos são momentos de glórias, assim como a glória está na preservação original de nossos estudos, no reconhecimento destes trabalhos por parte das novas gerações e na causa maior que é o bem estar de todos nós.
Paixão Côrtes tem suas origens ligadas á vida pastoril e iniciou muito cedo suas pesquisas folclóricas. No transcorrer dos tempos se viu obrigado a comprar sua própria aparelhagem (gravador, filmadora, máquina fotográfica, etc..) para registrar a cultura popular gauchesca. Deste trabalho resultou um acervo de milhares de slides, centenas de fitas e vídeos, enfim, um arquivo histórico sobre os usos e costumes do povo gaúcho.
Sua bibliografia é riquíssima e de suma importância e vai de posar como modelo para o artista Antônio Caringi esculpir a estátua do Laçador até dezenas de livros e discos que serviram de base para os primeiros passos para as centenas de invernadas artísticas por este mundo afora. Impressionantemente seu trabalho, hoje, é pouco considerado pelos "doutos" da tradição.
No ano de 1999, quando éramos proprietários do Jornal Boca da Serra, um periódico mensal voltado para a cultura gaúcha, entrevistamos Paixão Côrtes. Notem que suas respostas servem como uma luva para os dias de hoje, 17 anos após.
Boca da Serra – Depois de Paixão Côrtes, poucos ativistas dedicaram-se a pesquisar nosso folclore. Por que são poucos os interessados nesta área? Não há mais nada o que pesquisar?
Paixão Côrtes – Bem. Eu acho é que as pessoas estão mais preocupadas é em festar do que fundamentar. Estão mais voltados para a recreação e o lazer antes de procurar as raízes que deram origem a esses momentos literários, sociais e culturais. Mas eu acho que ainda há muita coisa para se pesquisar. Existem muitas manifestações que estão aí a espera de pessoas preocupadas em revitalizar essas fontes.
Só como informação: em 1950 eu pesquisei a dança jardineira, em Vacaria. Quarenta e quatro anos depois eu vim encontrá-la aqui, em Santo Antônio da Patrulha. Esperei 44 anos para que realmente reconstituíssem com toda a fidelidade. Seria muito mais fácil se eu não tivesse essa preocupação de veracidade e do respeito ás fontes originais como muita gente, irresponsavelmente, anda fazendo por aí. Minha preocupação é essa: reconstituir fielmente para que as novas gerações sejam portadoras da verdadeira raiz nativa riograndense.
Boca da Serra – Sendo o maior estudioso do assunto, como o senhor vê as danças de invernadas artísticas de hoje?
Paixão Côrtes – O que eu acho é o seguinte: as pessoas, as vezes, tem dificuldade de interpretar o que a gente escreve por que não conhecem português. Então, para essas pessoas, torna-se difícil entender o que a gente escreve traduzindo expressões artísticas, coreógrafas, musicais e de vestuário. Como as pessoas acham mais fácil olhar e acrescentar sua opinião pessoal, o que nós estamos vendo aí é uma verdadeira fantasia de vestuário e uma deturpação de temas originais que eu encontrei. Não quero dizer que as danças que eu investiguei sejam as únicas, mas estas, até que me provem o contrário, são as primitivas, as originais.
Hoje é muito comum a modificação, a estilização, a deturpação em razão da falta de documentos da época.
Boca da Serra – Nosso povo gosta muito de prestar homenagens “in memorian”. Que homenagem o senhor gostaria de receber em vida?
Paixão Côrtes – Eu estou recebendo todas as homenagens de pessoas sinceras que comungam com o espírito que me levou a criar, em 1947 o início do movimento tradicionalista através do Departamento de Comunicações do Colégio Júlio de Castilhos e, consequentemente o 35 CTG, que sou um dos fundadores.
A todo o momento eu me reencontro com as novas gerações e isto é um júbilo que a gente carrega pois já com 72 anos mas perfeitamente lúcido e me sentindo espiritualmente jovem, bastante jovem, porque estou dando muitos cursos e dançando continuadamente. Ensino setenta e tantas danças a cada curso que dou, a cada exposição coreográfica que faço aos mirins, juvenis, adultos e o reencontro com xirus veteranos, são momentos de homenagens perenes.
Isto sempre pensei em minha vida: o rever amigos são momentos de glórias, assim como a glória está na preservação original de nossos estudos, no reconhecimento destes trabalhos por parte das novas gerações e na causa maior que é o bem estar de todos nós.
O amigo Léo Ribeiro e a estátua de Paixão Côrtes na entrada de Santana do Livramento
Fonte: blog do Léo Ribeiro