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A dura vida dos grupos de baile no Rio Grande do Sul

Antigamente se tocava a troco da bóia, hoje os grupos de baile tem que manter grandes estruturas Foto: arquivo IGTF   "Quem me ol...

Antigamente se tocava a troco da bóia, hoje os grupos de baile tem que manter grandes estruturas
Foto: arquivo IGTF
 

"Quem me olha com apreço,
chapéu tapeado na testa,
não sabe o quanto padeço
quando estou longe de festa"
 
Este é o refrão de uma letra que fiz para o conjunto Os Tiranos falando da visão ilusória que muitos tem do artista no Rio Grande do Sul. O povo encherga seus ídolos como pessoas diferentes imaginando que aquele momento de puro brilho em cima do palco é extensivo a vida toda, que ninguém, ali, tem problemas por vezes até maiores do que os outros. 
 
Na verdade a missão do músico é esta, levar contentamento ao seu público, só que ele, muitas vezes, disfarça grandes dissabores como a própria dificuldade de ali estar.
 
Vamos pegar como exemplo um grupo de baile de médio porte.
 
Para se montar um conjunto gauchesco mediano (estruturalmente falando) não se gasta menos que duzentos e cinquenta mil entre equipamento e ônibus. 
 
O preço que um grupo de baile desta envergadura cobra para animar um fandango gira em torno de 7 a 12 mil reais. Os grupos grandes (que não são muitos), vão de 13 a 20 mil. Os pequenos fixam o cachê de 2 a 6 mil. 
 
O envolvimento de técnicos, músicos, motorista, etc..., sempre falando de um conjunto nem oito nem oitenta, é em torno de 10 a 15 pessoas. 
 
Em suma. Com o que sobra, quando sobra, o conjunto tem que rezar para que tudo ocorra dentro da mais perfeita normalidade e não se danifique nenhum aparelho, não estrague a condução, ninguém adoeça...
 
Enquanto isso, qualquer Zé Ruela sertanejo cobra dez vezes mais do que isto e nossos rodeios pagam de bom grado porque tudo que é dos outros é melhor. 
 
Mas os problemas não param por aí. 
 
Dentre os conjuntos, não há uma associação (para não dizer união) que padronize seus interesses e, por isso, acabam se devorando, seja por uma guerra de valores onde, para ganhar a concorrência, o grupo acaba baixando sua tabela, seja por, simplesmente, um não ajudar ao outro.
 
Inclusive grupos tradicionais, há anos no mercado, baixam seus valores para ganhar espaço de seu concorrente.  
 
Os próprios contratantes, na maioria Centros de Tradições, não estão muito preocupados com a qualidade musical de quem convidam para animar seus bailes. Querem o menor preço.
 
Até o prazer de gravar um disco e ver suas músicas fazendo sucesso já não é mais o mesmo. Primeiro porque a internet corre na frente e divulga o CD antes do mesmo ser lançado, não dando lucros ao autor, segundo porque as rádios, com raras exceções, não rodam mais músicas gauchescas e vão nos entupindo os ouvidos com sertanejos universitários. As antigas gravadoras que brigavam a tapa pelos artistas gaúchos, reduziram drasticamente seus trabalhos e quem quiser gravar, tem que pagar.
 
E se as emissoras não tocam, a música não é ouvida e o conjunto tem que nadar de pala contra a corrente na divulgação de seu trabalho. Há quantos anos não vemos uma canção fazer sucesso como dezenas de músicas antigamente?
 
Acrescente a tudo isto o perigo de nossas estradas; os fins de semana longe da família; as desavenças dentro do próprio grupo que originam, muitas vezes, pendengas judiciais e ações trabalhistas...
 
E para o mal dos pecados, entramos nesta crise financeira onde o divertimento vem em último plano.
 
Então, meus amigos de rádio, promotores de eventos, pessoas ligadas à música e povo que aprecia a cultura gaúcha. Valorizem os conjuntos riograndenses. Eles são compostos por verdadeiros heróis.

Léo Ribeiro


Fonte: blog do Léo Ribeiro

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