Foto: Divulgação | O Tempo e o Vento Antes de mais nada, não será falado da Chula, e sim de Danças Tradicionais Gaúchas constituída...
Foto: Divulgação | O Tempo e o Vento
Antes de mais nada, não será falado da Chula, e sim de Danças Tradicionais Gaúchas constituídas de um peão e uma prenda. Ok?
O assunto pode ser considerado delicado, já que vai acabar mexendo com a maior parte dos grupos de dança, mas também é para isso que existimos: pensar.
Pensar um pouco se as coisas estão seguindo "o rumo" que foi pensado em outros tempos.
Não vou falar por mim apenas, e para isso cito o folclorista Paixão Côrtes, que em seu livro "Danças e Dançares ausentes no atual tradicionalismo" publicado em 2001.
MAS AFINAL, O QUE É SAPATEAR?
"Sapatear, consiste em uma linguagem sonora, que permite uma permuta agradável entre efeitos tirados com os pés (toda-planta, meia-planta, salto, ponta - quando devidamente calçados) junto ao solo, numa harmoniosa leitura coreográfica, cujos fraseados e intensidades musicais (maior ou menor), estejam em sintonia com o ritmo e melodia de um tema bailável."
Por enquanto, nenhuma novidade acredito. Sapateia-se no ritmo da música, para haver sintonia. Certo?
"Dominantemente, é uma expressão calada, de uma viril elegância, de hábil agilizar teatralizado, no qual, o bailarino gaúcho, se apresenta e "conversa", coreograficamente, através dos pés (de forma nativa) e, quando em companhia do par (sua prenda), numa expressão de respeitável envolvimento conquistador e amoroso."
Aqui já da para destacar a CONVERSA entre peão e prenda através do sapateio. Logo, é necessário haver harmonia entre o que o sapateio quer "falar", e a prenda responde através dos "movimentos" do seu corpo, sejam em sarandeios ou então ligeiras fugas...
"Alguns sapateios lembram, em momentos, os movimentos de galanteio original de certos seres silvestres, em arroubos junto à fêmea, atitudes nas quais o dançarino, talvez tenha se inspirado e os transportado, de forma artística, a uma sociedade civilizada primitiva e ingênua do nosso passado."
Primitiva e ingênua. Primitiva e ingênua. Grave estas palavras...
MAS O QUE FAZ UM VERDADEIRO SAPATEADOR?
"Sapateador de méritos, faz a "chorona conversar" num fraseado de tempos fortes e fracos de um ritmo e numa silábica "roseteada" de notas.
Alguns bailarinos percutem os pés no chão como se fosse ordem-unida, em movimentos milicianos e numa sequência de comando militar, "alto". "Batem-talão" de forma desairosa ou "matam baratas" no tablado, achando que isto é dançar!"
E quantos desses vemos por aí?
"Sapateador que se presa, não entra "chão-a-dentro", fazendo barulho; "se eleva" do solo, "se desprende", de forma sublime e máscula, sem perder a sonoridade firme e límpida correspondentes tempos fortes e fracos de uma música, entre batidas marcantes e tênues, vibrantes e suaves, fugindo, outrossim, de "pisar-em-ovos" ou "em flores".
Chega assustar um pouco ler isso, visto que hoje pode-se ver cada naipe de sapateio que até assusta de tão socado no chão... Mas agora vem o destaque do post:
"Existem muitos - virtuosos - sapateadores destituídos de qualidade interpretativa, que "enchem" uma coreografia com complicados e exagerados "floreios", sem nenhuma ARTE. Confundem desenfreado ruído de uma ação dessincronizada de sentido motor e sonoro, com SAPATEIO VERDADEIRO!"
Por que os sapateios simples sumiram? Por que é necessário colocar o maior número de floreios, repiques, bate-esporas e etc, em cada vez menor tempo musical? Mostrar habilidade quem sabe? Mas mostrar para quem?
Muitas vezes vê-se peões totalmente presos, sem nenhuma expressão, pelo simples fato de PRECISAREM fazer algum tipo de sapateio com uma complexidade totalmente EXAGERADA.
Não quero dizer que não possam haver sapateios diferentes, pelo contrário.
Imagino eu que o gaúcho lá dos de antigamente gostava de mostrar suas habilidades pra se sobressair frente aos companheiros, então ele não ficar somente no bate-pé convencional que qualquer um poderia fazer...
Essa preocupação com sapateios é notada em pouquíssimos CTGs. Na grande maioria não percebe-se nem mesmo uma "crescente" em seus movimentos.
O intuito é a reflexão.
Se disserem que os sapateios "evoluíram" dessa forma porque as comissões avaliadoras o quiseram assim, OK, que seja feito para que seus grupos não percam nota e etc...
Mas será que foi por isso mesmo?
Por Guilherme Milani Lorscheider
Fonte: portal Estância Virtual
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