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A última barreira, por Liliane Pappen Bastos

Nunca me considerei uma feminista, pelo menos não no sentido etimológico da palavra, mas sempre defendi o direito da mulher de ser e faz...


Nunca me considerei uma feminista, pelo menos não no sentido etimológico da palavra, mas sempre defendi o direito da mulher de ser e fazer o que quisesse. Criada em uma família de poucos recursos, muito cedo precisei trabalhar e conquistar meu espaço. Como a grande maioria das mulheres, enfrentei assédio e menosprezo, mas isso nunca foi limite, pelo contrário, foi estímulo para mostrar a minha capacidade. Quando, em 1990, engrossei as fileiras do tradicionalismo junto com meus amigos do Grupo de Jovens ‘Liberdade’, na comunidade Santa Rita de Cássia, em Venâncio Aires, eu desconhecia os desafios que estavam por vir.

Como toda jovem apaixonada, em pouco tempo eu desejei fazer parte consciente e ativa deste movimento, e com o apoio de grandes incentivadores, comecei a participar dos concursos de prenda na entidade e região. Mais uma vez estava lá o preconceito – tu és apenas uma prenda, isso não é coisa de prenda, prenda não pode fazer isso, lugar de mulher é... Hein? Espera aí, lugar de mulher é onde ela quiser estar! Ocupando cargos e realizando com maestria tudo que qualquer homem faz! Minha teimosia não me permitiu abaixar a cabeça e seguir as convenções. Eu segui, com a delicadeza feminina e a postura de mulher gaúcha, ocupando os espaços e me construindo. Muitas mulheres, contemporâneas a mim, devem se identificar nesse prelúdio.

Agora, em 2018, finalmente estamos diante da última barreira. Temos a possibilidade de quebrar o paradigma final que nos separa da igualdade definitiva. Há muito, as mulheres vêm ocupando seus espaços na política e em todos os segmentos da sociedade - de pedreira a presidente! Já tivemos uma Governadora do Estado mulher, uma Presidente da República mulher, mas nunca antes na história, tivemos uma mulher à frente do Movimento Tradicionalista Gaúcho. Já ouvi nas entrelinhas que eleger uma mulher, é eleger uma ‘marionete’. Ora, meus caros, onde é que uma mulher é marionete de alguém? Isso é, no mínimo, subestimar a capacidade feminina!

Reflitam: de quem são as decisões cotidianas no seio do lar? Percebam quantas mulheres, na atualidade, são provedoras de suas famílias (hoje, as mulheres já são chefes de família em 67% dos lares brasileiros!), quantas mulheres comandam grandes empresas, quantas mulheres administram com maestria entidades e regiões tradicionalistas destacadas em nosso movimento. Há muito, as mulheres se apropriaram de suas decisões e argumentar que uma mulher pode ser manipulada é, no mínimo, indigno de homens esclarecidos!

A mudança nunca é fácil. Ela atemoriza os que estão acostumados com a zona de conforto, com o ‘mas sempre foi assim’. Entretanto, mudar é princípio básico de sobrevivência. Ao longo de milhares de anos, nos adaptamos, mudamos para sobreviver. Esse é um novo tempo. E eleger a primeira mulher presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho é assumir que estamos seguros de quem somos e aptos a enfrentar o novo. Eleger uma mulher é dar espaço para o pulso firme, sem perder a doçura da mão materna, afinal, dizer não como o rigor necessário é, também, papel de quem educa. Um novo tempo se descortina diante de nós, precisamos romper a última barreira.

No início do movimento, nos idos da década de 50, do século passado, Paixão Côrtes nos conta que apenas homens participavam, e que a visita ao Uruguai lhes abriu os olhos para a importância da mulher no meio. Lá, a mulher já exercia seu papel com maestria. Em 52 anos de Movimento Tradicionalista organizado, o MTG teve apenas presidentes homens. Somente em 1990, uma mulher foi convidada para integrar a administração do Movimento, porém, sempre com papel hierárquico inferior ao homem. Por isso, eleger uma mulher presidente é dar fôlego aos próximos 50 anos de Movimento, efetivamente vivenciando o lema de igualdade estampado em nossa bandeira. Sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra!


Colaboração: Rogério Bastos

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