Foto: Nauro Júnior / Agencia RBS Joca Martins é um dos principais nomes da música regional gaúcha. Com mais de 30 anos de carreira, co...
Foto: Nauro Júnior / Agencia RBS
Joca Martins é um dos principais nomes da música regional gaúcha. Com mais de 30 anos de carreira, coleciona sucessos e é um dos defensores da ideia de que onde houver um palco aberto para a música gaúcha lá deve estar o artista. Nesta entrevista, fala um pouco de sua trajetória, sobre a rotina de uma família musical e também sobre o potencial da música gaúcha ocupar um cenário nacional, a exemplo da música sertaneja.
Fale um pouco de sua trajetória.
Comecei em 1985 nos festivais do Rio Grande do Sul, tocando bombo leguero com os grupos Cancioneiro e Ontonte. No ano seguinte comecei a cantar em festivais. A minha trajetória é completamente influenciada pelo convívio familiar, principalmente meu avô, que era músico exímio, tocava vários instrumentos. Nos finais de semana, na chácara da família, fazíamos rodas musicais. Sempre tive o gosto e o amor pelo campo e foi natural a escolha pela música do Rio Grande do Sul.
Qual sua filosofia de trabalho, como artista?
Penso que precisamos estar em todos os espaços que permitam a presença da música gaúcha. Mesmo que sejam eventos com outro cunho, se nos convidam, acredito que precisamos estar lá. Ocupar os espaços que nos são oferecidos e também abrir outros mais.
Ao longo de sua trajetória, quais suas maiores conquistas?
Graças a Deus são muitas. Destaco a conquista de dois discos de ouro (Cavalo Crioulo e Clássicos da Terra Gaúcha). Também tive a felicidade de conquistar o troféu Vitor Mateus Teixeira de melhor cantor. Tenho um Troféu Açorianos de música. É muito importante também o Troféu Guri, da RBS. São prêmios importantes e fico muito feliz em ter, por eles, o reconhecimento.
Quais suas metas para os próximos anos?
Quero muito consolidar os espaços já conquistados, os palcos em que já cantei, e conquistar novos palcos, não importando onde eles estão. Tenho o projeto Bailanta do Joca, que é bastante abrangente, mais voltado pra música de baile.
Você tem 30 anos de estrada. Como você analisa a evolução da música gaúcha ao longo desse tempo?
Nestes 32 anos de estrada muitas coisas aconteceram. A música gaúcha sofreu uma série de modificações. Temos diversas vertentes da música gaúcha que desembocam no mesmo rio. Temos as músicas de festivais, a galponeira, a de bailes. Eu entendo que, apesar de todas essas vertentes, a música gaúcha é uma só. Elas cantam o nosso pago, cada uma ao seu jeito, com seu sotaque, arranjo, estilo e estética. Por um tempo a música gaúcha ficou elitizada, principalmente a dos festivais. Hoje vemos uma chegada maior dos músicos junto ao público. Músicos lançando clipes, singles. É a linguagem da música do mundo, hoje, também chegando à música gaúcha.
Você se sente mais à vontade compondo ou interpretando?
Confesso que me sinto muito à vontade tanto compondo quanto interpretando. Pra mim o momento da criação é único e mágico. É um momento valioso, instigante, e que desafia muito. E a interpretação igualmente tem sua beleza. É o momento em que estamos junto com o público, no palco, vivenciando o poema, a melodia.
Quais suas canções preferidas?
Essa pergunta é difícil. Porque as canções fazem parte de momentos. Em alguns momentos eu prefiro cantar algo bem alegre para animar e em outros eu gosto de cantar uma música que emocione mais. Dessa trajetória tenho momentos incríveis. Domingueiro, Recuerdos da 28 e Sou bagual, por exemplo, são músicas muito especiais, por conta desses tantos momentos.
Como é a rotina de uma “família musical”?
A rotina de uma família musical, minha e da Juliana (Spavanello), é bastante comum. A gente divide muito as tarefas na parte burocrática e cuida de cada coisa em seu momento. O momento mais musical é nas viagens. Vamos ouvindo música, cantarolando, tomando um mate. A Maria Laura (filha) já tem suas preferências musicais e participa. Em casa, por incrível que pareça, raramente a gente ouve música. E quando ensaiamos, geralmente, é separado, com exceção das músicas que interpretamos juntos.
Você é bastante ativo nas mídias sociais. É estratégia, gosto pessoal, marketing?
Em primeiro lugar é um gosto. Eu sou uma pessoa comunicativa e até gostaria de me comunicar mais e melhor. Ter uma live diária, por exemplo. Hoje a tecnologia e as mídias sociais permitem isso. Aliado a esse gosto, claro, tem também uma preocupação com a divulgação, com o marketing, que também é necessário. Quando estou lançando um trabalho, e para anunciar shows, comunico mais. Posso dizer que me relaciono bem com esta ferramenta.
Você integra o Projeto Vozes, que tem por objetivo levar a música gaúcha para as rádios. Você acredita que a música gaúcha possa ter, por exemplo, o destaque nacional que hoje tem a música sertaneja? Como você vê a integração, em alguns eventos, destes dois estilos?
O projeto Vozes Gaúchas é um projeto de divulgação. Um profissional leva os lançamentos de um grupo de músicos para as rádios. Essa é uma atividade muito importante. Precisamos ir até as rádios, estar disponíveis para os veículos de comunicação. São as rádios, juntamente com as mídias sociais, que vão fazer com que uma música seja ou não sucesso. Quanto à música gaúcha ter destaque como a sertaneja tem, eu não acredito. A música sertaneja tem um outro patamar de investimento e organização empresarial e profissional, com volumes muito maiores que os nossos, da música gaúcha. E é um produto musical que naturalmente já tem grande popularidade. Nós temos outras características e não me parece que devamos pensar em nível nacional. O meu foco sempre foi regional.
Qual sua opinião sobre a integração da música gaúcha com outros estilos?
Vejo com naturalidade. O mundo é globalizado e essa integração é salutar pra música gaúcha. Penso que devemos estar em todos os lugares onde nos chamam.
Que iniciativas você sugere para o fortalecimento da música gaúcha?
Muitas coisas precisam ser feitas. Penso que é necessário um maior esforço e empenho por parte de músicos, por parte de quem aprecia a música gaúcha e também por parte da indústria de eventos, da música. Precisamos fomentar mais internamente e juntos valorizar o que é nosso. Temos coisas maravilhosas sendo feitas e que precisam ser mostradas, não só na música gaúcha, como na cultura gaúcha como um todo. Ah, e muito importante, temos que parar de briga. Quando os irmãos peleiam entre eles os de fora dão risada e ocupam o espaço. Temos que estar mais ‘hermanados’, abraçados.
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