Por Tuanny Prado Dando continuidade ao especial iniciado na edição de janeiro do Eco da Tradição, seguimos debatendo com os tradicion...
Por Tuanny Prado
Dando continuidade ao especial iniciado na edição de janeiro do Eco da Tradição, seguimos debatendo com os tradicionalistas o documento máximo do tradicionalismo: a Carta de Princípios.
Artigo III – Promover no seio do povo uma retomada de consciência dos valores morais do gaúcho.
O terceiro item propõe aos tradicionalistas um olhar voltado ao caráter e às ações dos tradicionalistas. Não é à toa que integra justamente o grupo de aspectos éticos da Carta. Juntamente com mais cinco artigos, é responsável por atender às questões referentes ao comportamento dos homens, à aplicação dos princípios, aos valores morais.
Na opinião de Andressa Fernandes, 1ª Prenda da 4ª RT, ao longo de toda a história do Rio Grande do Sul vários foram os momentos em que a ética e os valores morais do gaúcho foram sendo aprimorados e testados, mas na sociedade atual muitos dos valores de outrora não são mais usualmente praticados. “O próprio Movimento só surgiu e tornou-se sólido graças aos valores que foram mantidos ao longo dos anos, como a palavra empenhada, o respeito aos outros e a si mesmo.”
Segundo Andressa, é possível notar esse comportamento já no início do Movimento, nos idos de 1947, quando Paixão Côrtes saiu às ruas de Porto Alegre pedindo pares de arreios emprestados a desconhecidos, que, por sua vez, acreditaram fielmente na palavra de que seriam cuidados e devolvidos.
Tainá Severo Valenzuela, do DTG Noel Guarany, 13ª RT, vê esse item como sendo de vital importância, desde que seja corretamente interpretado e compreendido. “Os ensinamentos de Lessa, outra grande referência aos tradicionalistas, sempre nos deixaram claro para atentarmos às transformações pelas quais as gerações iriam passar desde que o Movimento se organizara até o futuro – sem limite de tempo.”
Ela acredita que é necessária a reflexão sobre quais são os nossos valores, pois seria um retrocesso ignorarmos os moldes do mundo contemporâneo e nos repetirmos em frases prontas que podem levar a uma sociedade cheia de preconceitos e limites. “É necessário que a moralidade seja compreendida de forma ampla frente à sociedade na qual estamos inseridos, com a aceitação das diferenças, a busca pelo bem comum e o exercício constante e infindável da empatia”.
Para Kelvin da Silva Penedo, Peão Farroupilha da 30ª RT, o povo do Rio Grande do Sul é conhecido por ser hospitaleiro, acolhedor, mas, sobretudo, reconhecido pelo seu valor ético e moral. “Certamente Glaucus Saraiva, quando propôs a inclusão deste artigo na Carta, o fez no desejo de que nós, gaúchos, fizéssemos a disseminação, através da responsabilidade social, dos valores morais que norteiam as atitudes de cada um de nós em relação à sociedade”, complementa.
E essa responsabilidade social, relacionada à moral do gaúcho, é a que nos torna seres humanos que se importam com a sociedade na qual estamos inseridos, nas palavras do peão. Para ele, como a maioria dos tradicionalistas não possuem experiência rural, e sendo essa a origem de nosso Estado, existe uma maior responsabilidade por parte dos campesinos, pois é na figura deles que os valores serão repassados aos demais.
Além disso, Kelvin vê na participação mais ativa dos jovens debates que justamente preocupam-se com essas questões. “Um exemplo de contribuição que o jovem está tendo dentro do Movimento aconteceu durante o 67º Congresso Tradicionalista, aonde pudemos presenciar jovens se importando e defendendo causas de cunho social, através de propostas de tema anual, com objetivos de promover uma discussão acerca de representantes da formação da nossa identidade, como o negro e o homem do campo, por exemplo.”
Mas até que ponto este artigo está sendo aplicado dentro de nossas entidades e regiões?
Para Fabiano Vencato, coordenador da 12ª RT, muito tem se falado a respeito do assunto, mas de fato não está sendo muito praticado. “É como diz um velho ditado: ‘faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço’”. Ele acredita que dentro do tradicionalismo muitas pessoas acabam se preocupando com as aparências, com o que o outro irá pensar, e muitas vezes deixa de agir de forma ética e que, principalmente, existe muita crítica, sem valorização dos trabalhos realizados. “Devemos pregar o que tanto condenamos, pois levamos em conta o que aquilo pode me trazer de benefício e muitas vezes não olhamos o coletivo.”
Para Andressa, os valores éticos e morais são pregados pelo Movimento, mas não se pode afirmar que são praticados por todos, em virtude principalmente da proporção que possui hoje. “Cabe a nós, enquanto tradicionalistas ativos e conhecedores deste item, não só praticá-lo mas também difundi-lo e divulgá-lo na sociedade através de nossas atitudes, ações e atividades como tradicionalistas”. Segundo a prenda, isso serviria como exemplo para as gerações futuras e manteria vivos esses valores tradicionais dentro das entidades, que são o cerne formados de cada integrante do Movimento.
Já Tainá crê que não seja possível generalizar os tradicionalistas de forma a condicionar quem pratica ou não o ato de promover a retomada de valores morais. “Sei que, sim, muitos o promovem. Mas infelizmente também sei que não, muitos não o promovem, assim como os outros itens (da Carta de Princípios) também não.” Para ela, é necessária uma libertação das referências do passado, que aprisionam e não levam a lugar algum, articulando referências positivas do passado para com o presente. Assim, diminuiria o preconceito à diferença, até chegar à inexistência, e faria com que as minorias passassem a ocupar de forma legítima e coerente seu espaço, até que deixe de haver discriminações.
Kelvin vê no jovem o principal meio de colocar esse item em prática, através de engajamento e efetiva participação no Movimento e a partir do respeito e aprendizado com os mais velhos, “despertando em cada um de nós a consciência tradicionalista, aplicando ao Movimento o que aprendemos, para, assim, promover a moral e a ética do gaúcho, através dos seus valores, que são tantos. É assim que conseguiremos manter viva a nossa cultura e tradições gaúchas.”
Mas não só os jovens seriam os responsáveis por essa prática. Segundo o peão, o Movimento é feito de pessoas, para pessoas, sendo, assim, responsabilidade de cada um manter a identidade do gaúcho, através de sua moralidade, diante de uma sociedade que muitas vezes não está preocupada com o futuro e muito menos com os valores que a ela são atribuídos.
Para Tainá, a moralidade resiste em nossa noção mais profunda de humanidade.
Fonte: jornal Eco da Tradição
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