"Em muitas regiões do Pampa, as áreas naturais são substituídas, de forma rápida e em grande escala, por lavouras agrícolas e pela ...
"Em
muitas regiões do Pampa, as áreas naturais são substituídas, de forma
rápida e em grande escala, por lavouras agrícolas e pela silvicultura"
- Tadeu Vilani / Agencia RBS
Por Gerhard Overbeck
professor no Departamento de Botânica da UFRGS
professor no Departamento de Botânica da UFRGS
Ao pensarmos na restauração ecológica, pensamos primeiro em plantios de mudas arbóreas – talvez óbvio num país onde as extensas florestas merecem, sem dúvida nenhuma, esforços sérios de conservação e restauração.
Mas aqui, no bioma Pampa, precisamos nos preocupar também com outro tipo de ecossistema: com os campos, paisagens típicas do bioma. São ecossistemas extremamente ricos em espécies que, quando bem manejados, fornecem importantes serviços ambientais para a sociedade: contribuem ao armazenamento de carbono no solo. Garantem a provisão de água em qualidade e quantidade. São habitat para animais que polinizam culturas agrícolas ou controlam pragas. E, não menos importante, formam a base para a cultura gaúcha e para a produção de carne de alta qualidade, reconhecida internacionalmente. São, então, ambientes multifuncionais, mantidos pela diversidade das suas espécies que interagem entre si e o ambiente.
No entanto, em muitas regiões do Pampa, as áreas naturais são substituídas, de forma rápida e em grande escala, por lavouras agrícolas e pela silvicultura. Se por um lado precisamos produzir alimentos e outros bens, pelo outro lado é importante considerar que a perda dos ecossistemas naturais implica na perda da multifuncionalidade das paisagens, a qual é essencial para o bem-estar humano e também para a produtividade agrícola.
A próxima década foi declarada, pela ONU, a Década da Restauração dos Ecossistemas, e o Brasil assumiu metas que devem abranger todos os biomas. No bioma Pampa, com uma taxa de perda de vegetação nativa alta e com muitas áreas de campo degradadas por espécies invasoras, temos trabalho para frente. Um problema é a falta de sementes de plantas campestres nativas no mercado. Além de manter uma percentagem suficiente de vegetação nativa em todas as regiões, precisamos esforços conjuntos, por parte de órgãos ambientais, instituições de pesquisa e produtores rurais, no desenvolvimento de técnicas de restauração de ecossistemas campestres degradados. Ou alguém já conseguiu recuperar um campo plantando mudas arbóreas?
Fonte: GauchaZH
Pampa gaúcho sofreu desmate de 44%, aponta novo monitoramento do Inpe
Por Paula Sperb
As coxilhas e planícies verdes que compõem o pampa gaúcho estão ameaçadas. Os dados coletados por satélite em estudo do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que, em 2016, 43,7% da vegetação nativa estava suprimida, ou seja, desmatada.
O pampa é um dos seis biomas brasileiros e restrito ao Rio Grande do Sul. A pesquisa mostra que apenas 47,3% da vegetação natural está preservada. Os outros 9% são relativos à hidrografia.
O Inpe começou a processar os dados, ano a ano, desde 2004, para saber como evoluiu o desmatamento. Ao final do estudo será possível afirmar se a supressão do pampa efetivamente aumentou ou se alguma área foi regenerada nesse período. Também será feita uma projeção até 2022, segundo Cláudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento da Amazônia e demais biomas do Inpe.
O levantamento é possível graças a imagens feitas por dois satélites: o Landsat-8, operado pela Nasa, e o CBERS-4a, montado no Brasil pelo Inpe e lançado pela China.
A vegetação em forma de campo do pampa, composta por mais de 450 espécies de gramíneas, pode parecer simples ao olhar leigo se comparada a uma floresta vistosa, mas ela guarda uma imensa biodiversidade, diz Daniel Hanke, professor da Unipampa (Universidade Federal do Pampa).
No campus da universidade em Dom Pedrito, próxima de Bagé, ele conduz uma pesquisa sobre o tema. “Ao modificar um sistema que estava em equilíbrio, com os organismos trabalhando todos juntos, destruindo a vegetação, retira-se o alimento de muitos animais e o refúgio de várias espécies com funções ecológicas específicas”, explica.
Embora o estudo do Inpe ainda não aponte a causa do desmatamento de 43,7% do pampa, Hanke afirma que o que vem ganhando espaço é o plantio de soja, enquanto cultivo de arroz está estabilizado e o de milho decresce.
“Quando se suprime a vegetação para introduzir uma monocultura de soja, não se troca só uma planta por outra. O que se troca é um sistema que evoluiu ecologicamente para o equilíbrio por uma única vegetação”, diz Hanke.
No final de 2018, a Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental) autuou seis empreendimentos por transformar áreas do bioma em agrícolas sem autorização, uma delas com operação de tanques de combustíveis.
Pelas
imagens do Inpe é possível ver que a maior área intacta pertence à APA
(Área de Proteção Ambiental) Ibirapuitã, criada por decreto federal em
1992. Há, porém, outras porções preservadas, sufocadas entre áreas
desmatadas.
“Essas ilhas no meio de um mar de soja aumentam a fragilidade do pampa porque a supressão começa pelas bordas. Um campo nativo de 20 hectares é menos resistente à pressão lateral do que um campo nativo de mil hectares”, diz Hanke.
Além disso, o desmatamento para agricultura exige novas estradas entre os campos. As rodas dos caminhões espalham sementes de uma espécie invasora, o capim-annoni, considerado praga.
A vegetação baixa do pampa está relacionada à presença de animais ruminantes. Há 13 mil anos, quem controlava o crescimento dessas plantas era uma megafauna pastadora. Cerca de 8.000 anos depois da extinção desses animais gigantes da pré-história, chegaram os bovinos e equinos trazidos pelos colonizadores, segundo explicam os pesquisadores Rafael Cabral Cruz, da Unipampa, e Demétrio Luis Guadagnin, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) no trabalho “Uma Pequena História Ambiental do Pampa”, de 2010.
Bovinos e o pampa convivem em equilíbrio há milhares de anos, explica Hanke. É diferente da Amazônia devastada para criar gado. “No pampa não há efeitos negativos na presença desse animal —pelo contrário, ela é desejável.”
Por isso, a queda do número de cabeças de gado no pampa preocupa. Essa diminuição reforça a percepção de que que o bioma está sendo tomado pela soja e pode ainda impactar a cultura do gaúcho.
O pampa influenciou os hábitos ligados à pecuária, a relação afetiva com o cavalo e até as vestimentas do gaúcho, como se chama o homem do campo que exerce atividade pastoril no Rio Grande do Sul, na Argentina e no Uruguai.
“Com o decréscimo das áreas de rebanho do pampa por causa do boom das commodities, podemos ter impactos a longo prazo na cultura gaúcha. Restará um campo sem gente. Se o gaúcho não vive no campo, os CTGs [Centros de Tradição Gaúcha] terão que fazer uma força maior para preservar a cultura para que não seja algo do passado.”
Fonte: Folha de São Paulo
“Essas ilhas no meio de um mar de soja aumentam a fragilidade do pampa porque a supressão começa pelas bordas. Um campo nativo de 20 hectares é menos resistente à pressão lateral do que um campo nativo de mil hectares”, diz Hanke.
Além disso, o desmatamento para agricultura exige novas estradas entre os campos. As rodas dos caminhões espalham sementes de uma espécie invasora, o capim-annoni, considerado praga.
A vegetação baixa do pampa está relacionada à presença de animais ruminantes. Há 13 mil anos, quem controlava o crescimento dessas plantas era uma megafauna pastadora. Cerca de 8.000 anos depois da extinção desses animais gigantes da pré-história, chegaram os bovinos e equinos trazidos pelos colonizadores, segundo explicam os pesquisadores Rafael Cabral Cruz, da Unipampa, e Demétrio Luis Guadagnin, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) no trabalho “Uma Pequena História Ambiental do Pampa”, de 2010.
Bovinos e o pampa convivem em equilíbrio há milhares de anos, explica Hanke. É diferente da Amazônia devastada para criar gado. “No pampa não há efeitos negativos na presença desse animal —pelo contrário, ela é desejável.”
Por isso, a queda do número de cabeças de gado no pampa preocupa. Essa diminuição reforça a percepção de que que o bioma está sendo tomado pela soja e pode ainda impactar a cultura do gaúcho.
O pampa influenciou os hábitos ligados à pecuária, a relação afetiva com o cavalo e até as vestimentas do gaúcho, como se chama o homem do campo que exerce atividade pastoril no Rio Grande do Sul, na Argentina e no Uruguai.
“Com o decréscimo das áreas de rebanho do pampa por causa do boom das commodities, podemos ter impactos a longo prazo na cultura gaúcha. Restará um campo sem gente. Se o gaúcho não vive no campo, os CTGs [Centros de Tradição Gaúcha] terão que fazer uma força maior para preservar a cultura para que não seja algo do passado.”
Fonte: Folha de São Paulo
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