O folclorista João Carlos Paixão Côrtes sempre condenou as recentes encenações natalinas nas quais o Papai Noel aparece vestido ...
O
folclorista João Carlos Paixão Côrtes sempre condenou as recentes
encenações natalinas nas quais o Papai Noel aparece vestido com trajes
típicos gaúchos. 'Isso não existe', cutucava o historiador
recentemente falecido que, junto com Barbosa Lessa, foi responsável
pela maior garimpagem de temas folclóricos e populares do Rio Grande do
Sul, incluindo danças, culinária, trajes e instrumentos musicais.
Conforme o tradicionalista, a figura do velhinho surgiu no Rio Grande do Sul após a 1ª Guerra Mundial, baseada em um santo (São Clauss para os nórdicos europeus) da Igreja Católica. 'Foi criado pelo desenhista Tomas Nast, que se inspirou em um poema de seu compatriota norte-americano Clemente Clark Moore.' Além disso, dizia Paixão Côrtes, a indústria comercializa e profaniza essa figura. 'Nast deu-lhe forma, traços e cores, restaurou a cor vermelha da roupa do velho bispo Nicolau e acrescentou uma capa também rubra. O caricaturista inventou um gorro vermelho e, mais tarde, a roupagem de inverno foi simplificada para um gibão, uma espécie de calça abombachada.
De acordo com o folclorista, os organizadores dos eventos precisam valorizar o Natal tipicamente gauchesco, abandonando pinheiros europeus, trenós e roupas de lã. 'O verdadeiro Natal Gaúcho é uma festa da família, onde se comemora o nascimento de Cristo diante de um presépio, representativamente, com a presença do Menino Jesus na manjedoura, com burrico, vaquinha, ovelha, cânticos fundamentados em mensagens de um cristianismo puro e singelo, anunciando a chegada dos Reis Magos', ensina o pesquisador.
Paixão criticava nomes utilizados em algumas encenações como 'Guri de Nazaré' ou 'Prenda do Céu'. Para ele, 'querem agauchar a religião'. Acrescenta que o folclore rio-grandense é rico e os Ternos de Reis, por exemplo, constituem uma tradição que deveria ser preservada. 'Nossas comunidades açorianas a praticam há muito tempo'.
- Sempre que se aproxima o fim do ano, vejo entristecido que a querência vai se deixando envolver, mais pelas fantasias das luzes da cidade, pela ambição de um certo comércio, sedento de grandes lucros. Refiro-me ao PAPAI NOEL e ao NATAL. Desde meus tempos de piá, cruzando a linha divisória que une Santana do Livramento à Rivera (Uruguai) e, anos mais tarde, quando em pesquisa sobre música folclória, visitei o Paraguai, Argentina e Bolívia, verifiquei ainda a diferença das comemorações do Ciclo Natalino desses países com o nosso. - Dizia Paixão.
Aliás, da América Latina, é, mais freqüente no Brasil, que apareça a figura, misto de "Lucifer-santo", atemorizando as crianças travessas e faltosas, prometendo-lhes varas de marmelo e, quase ao mesmo tempo, com um saco de brinquedos às costas, estende a mão aos guris comportados, oferecendo-lhes "bondosamente" presentes.
Na maioria dos demais países sul-americanos, não encontramos Papai Noel distribuindo presentes no Natal, como acontece em nosso país.
A verdadeira tradição natalina rio-grandense é aquela em que se comemora o dia do nascimento de Cristo, diante de um presépio, com Menino Jesus na manjedoura, com burrico, vaquinha, ovelha, cânticos, anunciando a chegada dos Reis Magos...
Este é o verdadeiro NATAL GAÚCHO Festa da família. "Dia de Navidad" como denominam os países de língua espanhola na América do Sul.
Qual a razão do renascimento do culto de uma árvore, tão difundido entre os povos mais primitivos? De onde é, este tipo de pinheiro, estranho ao nosso, que se desenvolve em determinadas regiões do Brasil?
Imaginem só! No mais forte do verão, aqui, um Papai Noel vestido com grossas roupas de lã, capuz, todo respingado de neve, descendo, de botas, de uma chaminé ou sentado em um trenó, puxado por gamos...
Velinhas e bolinhas coloridas completam os enfeites das mesas onde são servidas nozes, tâmaras, torrones, chocolates, ameixas secas, passa, etc, alimentos de alto teor calorífico, próprios para o inverno, em pleno clima europeu...
Tudo isso num país tropical como o Brasil!!!
Entretanto, tentemos encontrar, na história universal das festividades natalinas, algumas explicações para o surgimento de certos acontecimentos, hoje vividos em muitos rincões do mundo.
No Rio Grande do Sul
O nosso homem do campo desconhece as comemorações do natal à maneira como hoje são usuais nas cidades, como uma árvore de neve, enfeitada, e de presentes ansiosamente esperados, com um Papai Noel atemorizando os guris travessos ou fazendo elogios ao bom filho. Isto não quer dizer que no campo os homens tenham se esquecido das mensagens cristãs de Natal, a entrada do Ano Novo e o Dia de Reis. Se o dia primeiro de janeiro é festivamente assinalado por um churrasco e "ressacas", não menos vibrantes são os festejos de Natal, com os "Ternos de Reis" - grupos musicais que anunciam, de rancho em rancho, de casa em casa, o nascimento do Salvador.
O objetivo desta visita varia de um terno para outro: alguns visam unicamente louvar a memória de Jesus Menino; outro terno visa propiciar aos cantadores uma doce retribuição ao desgaste de suas cordas vocais, através de fartos comes e bebes que os donos da casa nunca se esquecem de oferecer. Finalmente, há aqueles que, oprimidos pelas necessidades materiais que muitas vezes afligem nossos trabalhadores rurais, saem "pedindo os reis", na certeza de que ao menos no campo ainda não se esqueceram de toda as lições de fraternidade que Cristo legou aos nossos homens de bem.
NATAL GALPONEIRO
(Jayme Caetano Braun)
A cuia do chimarrão,
é o cálice do ritual,
e o galpão é a Catedral
maior da terra pampeana,
que de luzes se engalana,
para esperar o NATAL.
A cuia aquece na palma
da mão da indiada campeira,
dentro da sua maneira,
rezando e chairando a alma,
para recuperar a calma,
que fugiu do mundo inteiro.
Enquanto o estrelão viajeiro,
já vem rasgando caminho,
para anunciar o "Piazinho",
a Virgem e o Carpinteiro.
Em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo,
é o chimarrão que levanto,
e o vento faz estribilho,
a prece do andarilho,
ao Piazito Salvador,
filho de Nosso Senhor,
do Espírito e do Pai,
de volta a terra aonde vai,
falar de novo em amor!
Tem sido assim - dois mil anos,
ninguém sabe - mais ou menos,
vem conviver com os pequenos,
de todos os meridianos,
e repetir aos humanos,
as preces de bem querer.
Quem sabe até - pode ser,
que um dia seja atendido,
e o mundo velho perdido,
encontre paz para viver.
Ele sabe da apertura,
em que vive o pobrerio,
a fome - a miséria - o frio,
porque passa a criatura,
mas que - inda restam - ternura,
amizade e esperança,
é que pode, a cada andança,
mesmo nos ranchos sem pão,
aliviar o coração,
num sorriso de criança!
Pra mim - que ouvi na missões,
causos de campo e rodeio,
do "Negro do Pastoreio",
cruzando pelos rincões,
das lendas de assombrações,
e cobras queimando luz.
Foste - Menino Jesus,
o meu sinuelo de fé,
juntando ao índio Sepé,
o Nazareno da Cruz!
E a Santa Virgem Maria,
madrinha dos que não tem,
fez parte - sempre - também,
da minha filosofia,
eu que fiz de Sacristia,
os ranchos de chão batido,
e que hoje - encanecido,
sou sempre o mesmo guri,
a bendizer por aí,
o pago que fui parido!
E o Nazareno que vem,
das bandas de Nazaré,
chasque divino da fé,
rastreando a luz de Belém,
ele que vai morrer também,
pra cumprir as profecias.
É Natal - nasce o MESSIAS,
salve o Menino Jesus!
mas o que fogem da luz,
o matam todos os dias.
Presentes - "Papais Noéis",
um ano esperando um dia,
quando a grande maioria,
sofre destinos cruéis.
O amor pesado a "mil-réis",
e mortos vivos que andam,
instituições que desandam,
porque esqueceram JESUS,
o que precisa, é mais luz,
no coração dos que mandam!
Que os anjos digam amém,
para completar a prece,
do gaúcho que conhece,
as manhas que o tigre tem.
Não jogo nenhum vintém,
mesmo sendo carpeteiro,
mas rezo um Te-Déum campeiro,
nessa Catedral selvagem,
pra que faça Boa Viagem,
o enteado do Carpinteiro!
Fonte: blog do Léo Ribeiro
Conforme o tradicionalista, a figura do velhinho surgiu no Rio Grande do Sul após a 1ª Guerra Mundial, baseada em um santo (São Clauss para os nórdicos europeus) da Igreja Católica. 'Foi criado pelo desenhista Tomas Nast, que se inspirou em um poema de seu compatriota norte-americano Clemente Clark Moore.' Além disso, dizia Paixão Côrtes, a indústria comercializa e profaniza essa figura. 'Nast deu-lhe forma, traços e cores, restaurou a cor vermelha da roupa do velho bispo Nicolau e acrescentou uma capa também rubra. O caricaturista inventou um gorro vermelho e, mais tarde, a roupagem de inverno foi simplificada para um gibão, uma espécie de calça abombachada.
De acordo com o folclorista, os organizadores dos eventos precisam valorizar o Natal tipicamente gauchesco, abandonando pinheiros europeus, trenós e roupas de lã. 'O verdadeiro Natal Gaúcho é uma festa da família, onde se comemora o nascimento de Cristo diante de um presépio, representativamente, com a presença do Menino Jesus na manjedoura, com burrico, vaquinha, ovelha, cânticos fundamentados em mensagens de um cristianismo puro e singelo, anunciando a chegada dos Reis Magos', ensina o pesquisador.
Paixão criticava nomes utilizados em algumas encenações como 'Guri de Nazaré' ou 'Prenda do Céu'. Para ele, 'querem agauchar a religião'. Acrescenta que o folclore rio-grandense é rico e os Ternos de Reis, por exemplo, constituem uma tradição que deveria ser preservada. 'Nossas comunidades açorianas a praticam há muito tempo'.
- Sempre que se aproxima o fim do ano, vejo entristecido que a querência vai se deixando envolver, mais pelas fantasias das luzes da cidade, pela ambição de um certo comércio, sedento de grandes lucros. Refiro-me ao PAPAI NOEL e ao NATAL. Desde meus tempos de piá, cruzando a linha divisória que une Santana do Livramento à Rivera (Uruguai) e, anos mais tarde, quando em pesquisa sobre música folclória, visitei o Paraguai, Argentina e Bolívia, verifiquei ainda a diferença das comemorações do Ciclo Natalino desses países com o nosso. - Dizia Paixão.
Aliás, da América Latina, é, mais freqüente no Brasil, que apareça a figura, misto de "Lucifer-santo", atemorizando as crianças travessas e faltosas, prometendo-lhes varas de marmelo e, quase ao mesmo tempo, com um saco de brinquedos às costas, estende a mão aos guris comportados, oferecendo-lhes "bondosamente" presentes.
Na maioria dos demais países sul-americanos, não encontramos Papai Noel distribuindo presentes no Natal, como acontece em nosso país.
A verdadeira tradição natalina rio-grandense é aquela em que se comemora o dia do nascimento de Cristo, diante de um presépio, com Menino Jesus na manjedoura, com burrico, vaquinha, ovelha, cânticos, anunciando a chegada dos Reis Magos...
Este é o verdadeiro NATAL GAÚCHO Festa da família. "Dia de Navidad" como denominam os países de língua espanhola na América do Sul.
Qual a razão do renascimento do culto de uma árvore, tão difundido entre os povos mais primitivos? De onde é, este tipo de pinheiro, estranho ao nosso, que se desenvolve em determinadas regiões do Brasil?
Imaginem só! No mais forte do verão, aqui, um Papai Noel vestido com grossas roupas de lã, capuz, todo respingado de neve, descendo, de botas, de uma chaminé ou sentado em um trenó, puxado por gamos...
Velinhas e bolinhas coloridas completam os enfeites das mesas onde são servidas nozes, tâmaras, torrones, chocolates, ameixas secas, passa, etc, alimentos de alto teor calorífico, próprios para o inverno, em pleno clima europeu...
Tudo isso num país tropical como o Brasil!!!
Entretanto, tentemos encontrar, na história universal das festividades natalinas, algumas explicações para o surgimento de certos acontecimentos, hoje vividos em muitos rincões do mundo.
No Rio Grande do Sul
O nosso homem do campo desconhece as comemorações do natal à maneira como hoje são usuais nas cidades, como uma árvore de neve, enfeitada, e de presentes ansiosamente esperados, com um Papai Noel atemorizando os guris travessos ou fazendo elogios ao bom filho. Isto não quer dizer que no campo os homens tenham se esquecido das mensagens cristãs de Natal, a entrada do Ano Novo e o Dia de Reis. Se o dia primeiro de janeiro é festivamente assinalado por um churrasco e "ressacas", não menos vibrantes são os festejos de Natal, com os "Ternos de Reis" - grupos musicais que anunciam, de rancho em rancho, de casa em casa, o nascimento do Salvador.
O objetivo desta visita varia de um terno para outro: alguns visam unicamente louvar a memória de Jesus Menino; outro terno visa propiciar aos cantadores uma doce retribuição ao desgaste de suas cordas vocais, através de fartos comes e bebes que os donos da casa nunca se esquecem de oferecer. Finalmente, há aqueles que, oprimidos pelas necessidades materiais que muitas vezes afligem nossos trabalhadores rurais, saem "pedindo os reis", na certeza de que ao menos no campo ainda não se esqueceram de toda as lições de fraternidade que Cristo legou aos nossos homens de bem.
O NATAL NA VISÃO DE JAYME CAETANO
NATAL GALPONEIRO
(Jayme Caetano Braun)
A cuia do chimarrão,
é o cálice do ritual,
e o galpão é a Catedral
maior da terra pampeana,
que de luzes se engalana,
para esperar o NATAL.
A cuia aquece na palma
da mão da indiada campeira,
dentro da sua maneira,
rezando e chairando a alma,
para recuperar a calma,
que fugiu do mundo inteiro.
Enquanto o estrelão viajeiro,
já vem rasgando caminho,
para anunciar o "Piazinho",
a Virgem e o Carpinteiro.
Em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo,
é o chimarrão que levanto,
e o vento faz estribilho,
a prece do andarilho,
ao Piazito Salvador,
filho de Nosso Senhor,
do Espírito e do Pai,
de volta a terra aonde vai,
falar de novo em amor!
Tem sido assim - dois mil anos,
ninguém sabe - mais ou menos,
vem conviver com os pequenos,
de todos os meridianos,
e repetir aos humanos,
as preces de bem querer.
Quem sabe até - pode ser,
que um dia seja atendido,
e o mundo velho perdido,
encontre paz para viver.
Ele sabe da apertura,
em que vive o pobrerio,
a fome - a miséria - o frio,
porque passa a criatura,
mas que - inda restam - ternura,
amizade e esperança,
é que pode, a cada andança,
mesmo nos ranchos sem pão,
aliviar o coração,
num sorriso de criança!
Pra mim - que ouvi na missões,
causos de campo e rodeio,
do "Negro do Pastoreio",
cruzando pelos rincões,
das lendas de assombrações,
e cobras queimando luz.
Foste - Menino Jesus,
o meu sinuelo de fé,
juntando ao índio Sepé,
o Nazareno da Cruz!
E a Santa Virgem Maria,
madrinha dos que não tem,
fez parte - sempre - também,
da minha filosofia,
eu que fiz de Sacristia,
os ranchos de chão batido,
e que hoje - encanecido,
sou sempre o mesmo guri,
a bendizer por aí,
o pago que fui parido!
E o Nazareno que vem,
das bandas de Nazaré,
chasque divino da fé,
rastreando a luz de Belém,
ele que vai morrer também,
pra cumprir as profecias.
É Natal - nasce o MESSIAS,
salve o Menino Jesus!
mas o que fogem da luz,
o matam todos os dias.
Presentes - "Papais Noéis",
um ano esperando um dia,
quando a grande maioria,
sofre destinos cruéis.
O amor pesado a "mil-réis",
e mortos vivos que andam,
instituições que desandam,
porque esqueceram JESUS,
o que precisa, é mais luz,
no coração dos que mandam!
Que os anjos digam amém,
para completar a prece,
do gaúcho que conhece,
as manhas que o tigre tem.
Não jogo nenhum vintém,
mesmo sendo carpeteiro,
mas rezo um Te-Déum campeiro,
nessa Catedral selvagem,
pra que faça Boa Viagem,
o enteado do Carpinteiro!
Fonte: blog do Léo Ribeiro
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