No dia 03 de maio de 1947, na localidade de Águas Frias, município de Tucunduva, nascia um menino que se tornaria um dos maiores canto...
No
dia 03 de maio de 1947, na localidade de Águas Frias, município de
Tucunduva, nascia um menino que se tornaria um dos maiores cantores e
divulgadores da região missioneira: Cenair Maicá. Filho de Armando
Maicá, popularmente conhecido por “seu Mandico”, e Orcina Lamarque
Maicá, desde a infância acompanhou seus pais na travessia do rio
Uruguai, mantendo contato com as duas pátrias: Brasil e Argentina.
Conhecia a realidade social dos dois lados. Cenair se criou no meio de
balseiros e pescadores, vivendo nas carreiras (acampamentos no meio do
mato) que existiam tanto do lado brasileiro quanto do lado argentino.
Pelo fato dos pais residirem na Argentina, estudou o primário no
colégio General Belgrano, em Três Pedras, Oberá (Misiones). Nesta
localidade também conheceu um dos seus primeiros incentivadores para a
arte da música, um paraguaio de nome Fernandes, que lhe ensinou a
dedilhar o violão.
Aos três anos, Cenair cruzou a fronteira com sua família para viver em acampamentos de extração de madeira às margens do Uruguai. Este dado foi decisivo para a formação de sua personalidade musical. Criado no meio de madeireiros, balseiros e pescadores, absorveu desde cedo a musicalidade de suas formas de expressão. Com os peões argentinos e paraguaios que trabalhavam com seu pai, Cenair aprendeu os primeiros acordes da guitarra.
Quando era piá, ouvia histórias dos povos latino-americanos e das barbáries cometidas contra os índios. Mais tarde sofreu com a dura realidade do homem rural. Porém, também vivenciou momentos alegres em festanças com gaita e violão, o que lhe motivou a aprender a tocar.
Cenair Maicá apresentava em seu trabalho a relação com o rio Uruguai; a preocupação com os problemas do homem rural e o destino “dos herdeiros de São Miguel” que viviam à beira das estradas artesanando balaios para pão e “pinga”.
Esta convivência no meio de madeireiros, balseiros e pescadores, despertaria nele outro traço comum aos troncos missioneiros: a postura fraternal para com os países vizinhos.
Pode-se ouvi-lo dizer na entrevista gravada no Museu Antropológico Augusto Pestana: "A história missioneira não pertence somente ao Rio Grande do Sul, mas também à Argentina e ao Uruguai".
Músico desde os 10 anos de idade — quando começou a se apresentar em público ao lado de seu irmão Adelque — , Cenair fez sua entrada triunfal na história da música gaúcha ao vencer o 7º Festival do Folclore Correntino em 1970, em Santo Tomé, na Argentina com Fandango na Fronteira. Na apresentação, Cenair dividiu o palco com quem a havia composto: Noel Guarany. Foi a consagração de ambos e de cada um como artista e também dos esforços iniciados pelos dois e por Ortaça em 1966, quando lançaram um manifesto reivindicando a herança guarani e anunciando a intenção de criar, a partir dela, uma nova arte missioneira.
A vitória no 7º Festival do Folclore Correntino em 1970, em Santo Tomé, na Argentina rendeu a Cenair e Noel a gravação de um disco compacto, Filosofia de Gaudério (1970).
Em 1978, Cenair lançou "Rio de Minha Infância", o primeiro de sua carreira solo. Solo talvez não seja a palavra adequada: a produção e a direção couberam a Noel, autor, também, de quatro das dez músicas que o integram.
Com sua voz encorpada e ao mesmo tempo suave, Cenair gravou indelevelmente também seu nome entre os grandes da arte popular gaúcha. Homem e artista da melhor extração missioneira, colocou sempre sua voz e seu talento a serviço de sua terra e de sua gente. A exemplo e ao lado dos outros "troncos missioneiros" (seus parceiros e amigos Noel Guarany, Jayme Caetano Braun e Pedro Ortaça), personificou a identidade histórica e cultural de sua região. Também junto a eles, foi responsável por inserir as Missões no mapa histórico e cultural oficial do estado, desencadeando a redefinição de uma identidade gaúcha até então calcada quase exclusivamente na exaltação dos senhores feudais da região da campanha.
Cenair sabia dos obstáculos que existiam no caminho que escolheu. O enfrentamento com os monopólios fonográficos fazia parte de suas preocupações. "As multinacionais do disco infiltravam a música norte-americana" — recordou em uma entrevista, realizada em 1982 no Museu Antropológico Augusto Pestana — "mas nós tínhamos um compromisso de manter a cultura missioneira". Nisto, como em muitas coisas, comungava das mesmas ideias de seu parceiro Noel Guarany.
Cenair Maicá é, hoje, uma referência para todos aqueles que se propõem defender o patrimônio natural, histórico, cultural, econômico e, principalmente, humano do Rio Grande do Sul.
A biografia de Cenair tem também um outro aspecto — este de cunho trágico — Cenair viveu pouco. Aos 17 anos de idade, num acidente, Cenair perdeu um rim, o que veio, mais tarde a comprometer sua saúde e influenciar em seu falecimento, em 02/01/1989, após passar por um transplante. Em 1984 iniciaram os problemas de saúde, e o rim que ainda possuía começou a falhar. Necessitou fazer hemodiálise, debilitando ainda mais a saúde. Finalmente, em 1985 realizou o transplante de um rim, sendo o doador o irmão Darci Maicá. A penúltima internação hospitalar, em dezembro de 1988 teve como objetivo colocar uma prótese femural.
Em 2 de janeiro de 1989, Cenair Maicá falecia, deixando em seu registro musical um atestado de amor às suas origens e a prova de que através da música era possível contar a história de forma popular, dando voz à memória coletiva, alertando a todos dos erros cometidos no passado e a necessidade básica de fortalecer a identidade para construção de um futuro mais humano e social.
Foi construído um mausoléu na entrada do Cemitério Sagrada Família em Santo Ângelo, para homenagear o cantor, compositor e poeta missioneiro, Cenair Maicá.
O mausoléu tem dois pilares, um representando a música e o outro a poesia, com uma frase no centro :"Se meu destino é cantar, eu canto". Logo abaixo da inscrição, Cenair Maicá, Cantor Missioneiro, estão mais duas citações. Ao lado da data de nascimento e da sua morte, constam "Nasce o poeta" e "O mundo fica mais triste". Capas de seus discos e fotos também estão no local.
Outras duas marcas constantes do mausoléu, são a cruz missioneira e um violão, símbolo e material que Cenair sempre carregava, no peito e nos braços.
Fonte: blog do Léo Ribeiro
Aos três anos, Cenair cruzou a fronteira com sua família para viver em acampamentos de extração de madeira às margens do Uruguai. Este dado foi decisivo para a formação de sua personalidade musical. Criado no meio de madeireiros, balseiros e pescadores, absorveu desde cedo a musicalidade de suas formas de expressão. Com os peões argentinos e paraguaios que trabalhavam com seu pai, Cenair aprendeu os primeiros acordes da guitarra.
Quando era piá, ouvia histórias dos povos latino-americanos e das barbáries cometidas contra os índios. Mais tarde sofreu com a dura realidade do homem rural. Porém, também vivenciou momentos alegres em festanças com gaita e violão, o que lhe motivou a aprender a tocar.
Cenair Maicá apresentava em seu trabalho a relação com o rio Uruguai; a preocupação com os problemas do homem rural e o destino “dos herdeiros de São Miguel” que viviam à beira das estradas artesanando balaios para pão e “pinga”.
Esta convivência no meio de madeireiros, balseiros e pescadores, despertaria nele outro traço comum aos troncos missioneiros: a postura fraternal para com os países vizinhos.
Pode-se ouvi-lo dizer na entrevista gravada no Museu Antropológico Augusto Pestana: "A história missioneira não pertence somente ao Rio Grande do Sul, mas também à Argentina e ao Uruguai".
Músico desde os 10 anos de idade — quando começou a se apresentar em público ao lado de seu irmão Adelque — , Cenair fez sua entrada triunfal na história da música gaúcha ao vencer o 7º Festival do Folclore Correntino em 1970, em Santo Tomé, na Argentina com Fandango na Fronteira. Na apresentação, Cenair dividiu o palco com quem a havia composto: Noel Guarany. Foi a consagração de ambos e de cada um como artista e também dos esforços iniciados pelos dois e por Ortaça em 1966, quando lançaram um manifesto reivindicando a herança guarani e anunciando a intenção de criar, a partir dela, uma nova arte missioneira.
A vitória no 7º Festival do Folclore Correntino em 1970, em Santo Tomé, na Argentina rendeu a Cenair e Noel a gravação de um disco compacto, Filosofia de Gaudério (1970).
Em 1978, Cenair lançou "Rio de Minha Infância", o primeiro de sua carreira solo. Solo talvez não seja a palavra adequada: a produção e a direção couberam a Noel, autor, também, de quatro das dez músicas que o integram.
Com sua voz encorpada e ao mesmo tempo suave, Cenair gravou indelevelmente também seu nome entre os grandes da arte popular gaúcha. Homem e artista da melhor extração missioneira, colocou sempre sua voz e seu talento a serviço de sua terra e de sua gente. A exemplo e ao lado dos outros "troncos missioneiros" (seus parceiros e amigos Noel Guarany, Jayme Caetano Braun e Pedro Ortaça), personificou a identidade histórica e cultural de sua região. Também junto a eles, foi responsável por inserir as Missões no mapa histórico e cultural oficial do estado, desencadeando a redefinição de uma identidade gaúcha até então calcada quase exclusivamente na exaltação dos senhores feudais da região da campanha.
Cenair sabia dos obstáculos que existiam no caminho que escolheu. O enfrentamento com os monopólios fonográficos fazia parte de suas preocupações. "As multinacionais do disco infiltravam a música norte-americana" — recordou em uma entrevista, realizada em 1982 no Museu Antropológico Augusto Pestana — "mas nós tínhamos um compromisso de manter a cultura missioneira". Nisto, como em muitas coisas, comungava das mesmas ideias de seu parceiro Noel Guarany.
Cenair Maicá é, hoje, uma referência para todos aqueles que se propõem defender o patrimônio natural, histórico, cultural, econômico e, principalmente, humano do Rio Grande do Sul.
A biografia de Cenair tem também um outro aspecto — este de cunho trágico — Cenair viveu pouco. Aos 17 anos de idade, num acidente, Cenair perdeu um rim, o que veio, mais tarde a comprometer sua saúde e influenciar em seu falecimento, em 02/01/1989, após passar por um transplante. Em 1984 iniciaram os problemas de saúde, e o rim que ainda possuía começou a falhar. Necessitou fazer hemodiálise, debilitando ainda mais a saúde. Finalmente, em 1985 realizou o transplante de um rim, sendo o doador o irmão Darci Maicá. A penúltima internação hospitalar, em dezembro de 1988 teve como objetivo colocar uma prótese femural.
Em 2 de janeiro de 1989, Cenair Maicá falecia, deixando em seu registro musical um atestado de amor às suas origens e a prova de que através da música era possível contar a história de forma popular, dando voz à memória coletiva, alertando a todos dos erros cometidos no passado e a necessidade básica de fortalecer a identidade para construção de um futuro mais humano e social.
Foi construído um mausoléu na entrada do Cemitério Sagrada Família em Santo Ângelo, para homenagear o cantor, compositor e poeta missioneiro, Cenair Maicá.
O mausoléu tem dois pilares, um representando a música e o outro a poesia, com uma frase no centro :"Se meu destino é cantar, eu canto". Logo abaixo da inscrição, Cenair Maicá, Cantor Missioneiro, estão mais duas citações. Ao lado da data de nascimento e da sua morte, constam "Nasce o poeta" e "O mundo fica mais triste". Capas de seus discos e fotos também estão no local.
Outras duas marcas constantes do mausoléu, são a cruz missioneira e um violão, símbolo e material que Cenair sempre carregava, no peito e nos braços.
Fonte: blog do Léo Ribeiro
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